O ponto principal que norteou
todo esse projeto, foi demonstrar aos professores que pare educar uma crian�a �
necess�rio avaliar a sua forma de construir o conhecimento. E n�s entendemos que esse
processo deve ser avaliado n�o somente em aula, mas conhecendo-se melhor a hist�ria do
aluno.
O processo de constru��o do
conhecimento tem seus melindres e suas nuances que podem ser melhor entendidos ao se
analisar um sujeito- o aluno- como elemento tamb�m em constru��o. Ao levarmos em conta
sua vida e sua hist�ria pessoal estamos reconhecendo ali como esse sujeito formou sua
capacidade de lidar com o mundo, a partir do seu contexto. Em sua hist�ria est� a
constru��o de um sujeito, um processo de intera��o cont�nua com o mundo, que ri�
resultar na personalidade do aluno.
" A crian�a, desde os 6
ou 7 anos, tem representa��es ligadas �s palavras gasolina, eletricidade, vapor, etc.
Tem outras ligadas aos conceitos de vida, pensamento, sentimento, etc, e id�ias sobre o
coeficiente de vida ou de sentimento, por assim dizer, que � preciso conceder aos
animais, plantas, astros, etc."( Piaget, Jean- A linguagem e o pensamento da
crian�a, p�g.91)
Cabe ao professor reconhecer na
execu��o da tarefa que o aluno realiza uma abordagem de se apropiar do conhecimento,
n�o apenas uma maneira certa ou errada de aprender. � preciso entender o aluno dentro de
seu contexto de pensamento e perceber que um erro pode n�o ser uma falha de aprendizagem,
mas um aspecto que faz parte de uma constru��o do aluno. O erro tem que ser entendido
dentro da constru��o do aluno e seu significado deve ser retirado desta. Em geral o
professor analisa o erro dentro do contexto que ele produziu a tarefa.
O erro representa uma
constru��o que impera ali por baixo o mantendo e tem sua serventia nesta estrutura. O
erro � fundamental porque, se o aluno recebe do professor uma mensagem de que este
representa a prova de sua incapacidade, ele o abandona e descarta-o, conjuntamente com
todo o racioc�nio que produziu para chegar nele e que n�o necessariamente est� errado.
Sabemos que a crian�a apresenta uma forma de pensar diferente:
"... a crian�a �
levada a acreditar que tudo tem um fim.; a id�ia do fortuito lhe escapa, mas, pelo
pr�prio fato de lhe escapar, ela d� prefer�ncia a perguntar sobre o que � acidental ou
inexplic�vel, poruqe o acidental se lhe apresenta como um problema- bem mais do que para
n�s. Ent�o, ora ela procura suprimir o acidente como tal, tentando justific�-lo por um
fim, ora falha nessa justifica��o, e a�, reconhecendo o fortuito, procura explic�-lo
de maneira causal." (Piaget, Jean- A linguagem e o pensamento da crian�a,
p�g.165)
Assim ele n�o valoriza o que
constr�i e n�o pode aprender, pois o aprendizado vem de, atrav�s dos erros, poder
buscar a solu��o mais eficaz. Ademais, sabemos que o conhecimento humano n�o tem uma
dire��o s�, que n�o podemos dizer isso � a verdade. O conhecimento humano se baseia
em uma busca de sempre tentar dar conta da realidade mas no entanto � sempre busca
fracassada, pois o enigma da exist�ncia n�o � pass�vel de ser resolvido por um ser
humano. Assim, dizer que um aluno errou, n�o implica que ele est� aprendendo, muito pelo
contr�rio: o erro representa uma tentativa e � no aprimoramento e na soma das tentativas
que o aluno aprende.
Assim, se o erro for ensinado
como uma forma de se dirigir para o caminho do conhecimento, da constru��o de um sistema
de pensamento que guiar� os atos do aluno na vida, o erro representar� um mergulho no
desconhecido, pois pede que seja reformulado algum ponto da constru��o cognitiva. Assim
o erro permite reflex�o e aprendizado, fazendo com que se esteja em permanente
constru��o do racioc�nio, o que � o ideal da educa��o. O aluno n�o produz
ignor�ncia quando erra, mas quando perde a vontade de aprender e isso n�o ocorre quando
ele se sente estimulado a buscar novos caminhos quando da constata��o de que sua
constru��o cognitiva fracassou ou n�o alcan�ou o objetivo esperado.
" Conquistar por si
mesmo um certo saber, com a realiza��o de pesquisas livres, e por meio de um esfor�o
espont�neo, levar� a ret�-lo muito mais; isso possibilitar� sobretudo ao aluno a
aquisi��o de um m�todo que lhe ser� �til por toda a vida e aumentar� permanentemente
a sua curiosidade, sem o risco de estanc�-la; quando mais n�o seja, ao inv�s de deixar
que a mem�ria prevale�a sobre o racioc�nio, ou submeter a intelig�ncia a exerc�cios
impostos de fora, aprender� ele a fazer por si mesmo funcionar a sua raz�o e construir�
livremente suas pr�prias no��es."( Piaget, Jean- Para onde vai a educa��o?,
p�g. 54)
Porque � na tentativa e no erro
que o aluno chega ao que eu considero o ponto b�sico e objetivo final da educa��o: a
possibilidade de criar caminhos originais, respostas novas e criativas para os problemas.
Neste ponto, une-se a
inform�tica com a demanda contemporanea: h� a necessidade de profissionais que saibam
produzir solu��es, tentar caminhos novos, buscar criar dispositivos para resolver
antigas situa��es. O mercado exige dos profissionais que saibam tomar decis�es,
sustent�-las, que aprendam a abordar e a analisar os problemas bem como as solu��es que
ir�o tomar. � cobrado iniciativa e criatividade em primeiro lugar. A inform�tica � um
ambiente fant�stico para isso, pois al�m de ser um excelente instrumento de est�mulo a
criatividade, os caminhos e formas de realizar as tarefas ficam inteiramente na m�o de
quem trabalha com ela, dando assim autonomia e poder de decis�o ao usu�rio.
Mas para se produzir e estimular
criatividade, o erro n�o pode ser descartado ou desprezado. N�o se fala mais em erro,
mas em tentativa. A criatividade surge depois de um trabalho constante pensando e
repensando uma quest�o, buscando uma solu��o mais vi�vel e original, que � o que
necessitamos nas institui��es sociais.
O erro tem que ser abordado como
uma forma pr�pria de configurar uma constru��o e que ir� resultar em uma soma ou
modifica��o da estrutura posterior de racioc�nio. Para que a crian�a, por exemplo,
possa aprender algo, ela ter� de passar por diversas tentativas e constru��es que n�o
s�o descartadas mas aprimoradas: no erro de hoje produz-se o saber do amanh�.
A rela��o do aprendizado com o
erro, d�-se em uma sucess�o de constru��es necess�rias para que a crian�a aprenda
at� qual o caminho a n�o seguir, ou porque optou por um determinado caminho.
" O exame escolar n�o
� objetivo, antes de mais nada porque implica sempre em um certo contigente de sorte;
al�m disso, e sobretudo, porque est� mais voltado para a mem�ria que para as
capacidades construtivas do aluno( como se este �ltimo estivesse condenado a nunca mais
se utilizar de seus livros ap�s deixar a escola!)"( Piaget, Jean. Para onde vai
a educa��o? p�g.45)
A quest�o primordial � se
abordaremos o erro da crian�a como uma falha da reprodu��o de uma constru��o
cognitiva que apresentamos como certa ou se o erro ser� abordado sem que exista uma
resposta definida, mas tendo o valor da constru��o em si mesma, ou seja, o mais
importante � que a crian�a construa e n�o o que ela constr�i. O aprendizado est�
garantido quando essa constru��o torna-se um elemento perp�tuo. Piaget cita exemplos:
" Para citar um s�
exemplo, todos sabem da dificuldade que sentem os alunos de segundo grau( e mesmo um bom
n�mero de estudantes universit�rios!) em compreender a regra de �lgebra chamada dos
sinais: " menos por menos d� mais" . Ora, essa regra dos sinais j� �
descoberta na a��o por crian�as de 7 a 8 anos, sob formas qualitativas variadas. quando
uma delgada haste de ferro que atravessa tr�s pequenas bolas ABC � vergada atr�s de uma
tela( sendo vis�veis os movimentos da haste, mas n�o os das bolas), a crian�a
compreende que a ordem ABC se altera para CBA; compreende ent�o imediatamente que duas
viradas restituem a ordem ABC, que tr�s rota��es resultam em CBA, etc. Descobre assim,
sem a conhecer, a regra de composi��o que preceitua que duas invers�es de sentido se
anulam, ou seja, que " menos por menos d� mais". Entretanto, quando estiver com
15 ou 16 anos, se as opera��es alg�bricas cuja exist�ncia ir� aprender n�o lhe forem
apresentadas com o prolongamento de a��es desse tipo, ele n�o compreender� nada!
."( Piaget, Jean- Para onde vai a educa��o?, p�g. 60)
Por este exemplo vemos como �
importante para o aluno poder construir e entender as constru��es do racioc�nio. De
nada adianta ele apenas repetir os conte�dos de sala de aula, se n�o conseguir entender
a l�gica impl�cita neles. � nessa abordagem que pode-se produzir o que chamamos do
pensamento original, ou pensamento art�stico, criativo, onde produz-se uma constru��o
inovadora que descentre dos habituais caminhos e crie novas dire��es e produza
movimento, produza reflex�o. Quando algo surge de forma criativa, a pr�pria cria��o,
pela sua originalidade, movimenta as pessoas, porque lhes permite vislumbrar uma forma de
pensar diferente da que vinham mantendo at� ent�o e produz assim reflex�o, o que �
transformador no mundo.
" Do mesmo modo, n�s
vemos muitas vezes professores que se prop�e, por exemplo, a alfabetizar. Pega uma
cartilha e a seguem ao p�-da-letra. Comumente o resultado de tal empreendimento �
bastante desastroso. O professor se apega na metodologia( muitas vezes chamada de "
processo de alfabetiza��o") e esquece que cada aluno pode estar vivenciando aquelas
aulas de uma maneira particular." ( Franco, Sergio Roberto Kieling, O
construtivismo e a educa��o- p�g. 07)
Como se processa o pensamento
art�stico? Em geral, a arte nasce primeiro de uma id�ia inicial que, ap�s o artista
vislumbr�-la, ele ir� transform�-la no objeto de arte. O material e o meio que o
artista ir� escolher para fazer isso depende da id�ia que ele possui, se ele acha que
sua id�ia ficaria melhor em uma tela de pintura ou em uma escultura, depende do que ele
deseja criar. �s vezes o pr�prio material j� � uma cria��o, quando o artista tem de
utilizar os materiais mais � m�o ou adequar sua obra ao que encontra em seu contexto. O
mais importante � que a id�ia � sempre o elemento central a partir do qual id�ia e
material da obra ir�o se fundir ao m�ximo poss�vel. A id�ia vai aos poucos tomando
forma no material utilizado enquanto que este tamb�m influi no como a id�ia est� se
apresentando. Digamos que a maneira como uma id�ia � elaborada vai aos poucos
modificando essa mesma id�ia, sendo que o processo de execu��o da mesma transforma-a em
algo que n�o representa mais o que foi inicialmente concebido abstratamente. Piaget fala
das dificuldades de estimular o pensamento criativo em sala de aula:
" � que nada � mais
dif�cil para o adulto do que saber apelar para a atividade real e espont�nea da crian�a
ou do adolescente; no entanto, somente esta atividade, orientada e incessantemente
estimulada pelo professor, mas permanecendo livre nas experi�ncias, tentativas e at�
erros, pode conduzir a autonomia intelectual ."( Piaget, Jean- Para onde vai a
educa��o?, p�g. 60)
O trabalho de inform�tica com
uma nuance de pensamento art�stico tem que ensinar ao aluno priorizar o seu objetivo e
sua id�ia. Que o mais importante � que ele tenha uma meta, um planejamento e um objetivo
definido para depois utilizar o computador n�o pelas possibilidades que este apresenta,
ou seja, o aluno n�o utiliza o que est� mais � m�o por assim dizer, pois acabar�
produzindo um pensamento limitado e n�o criativo. Como demonstramos, o aprendizado
pressup�e que o aluno possa refletir sobre a maneira que ir� encontrar para expressar
sua id�ia, alcan�ar aquilo que deseja. Novamente vemos a import�ncia da constru��o do
processo construtivo. � nesse processo que se produz algo diferente da mera id�ia
abstrata mas ao mesmo tempo esta rearranja o processo em uma dada configura��o original,
buscando sua express�o.
Assim o trabalho art�stico �
uma busca incessante e obsessiva do artista em poder expressar, da melhor forma, o que
pensa e/ou sente. Em geral toda sua obra tem caracterist�cas pessoais muito marcantes e
constituem uma evolu��o progressiva, um trabalho � sucess�o do outro, podendo o
artista passar anos trabalhando o mesmo tema, pois o que ele busca � a forma mais
original e mais perfeita de passar aquilo que ele deseja expressar. � atrav�s das
v�rias tentativas que ele conseguir� alcan�ar a melhor express�o do seu pensamento. E
ressaltamos que esse processo � importante n�o apenas para formar intelectuais, mas que
igualmente formaremos cidad�os, pois um ensino construtivo pode melhorar a capacidade de
participa��o de nosso povo. Como diz Piaget:
" Na realidade, a
educa��o constitui um todo indissoci�vel, e n�o se pode formar personalidades
aut�nomas no dom�nio moral se por outro lado o indiv�duo � submetido a um
constrangimento intelectual de tal ordem que tenha de se limitar a aprender por
imposi��o sem descobrir por si mesmo a verdade: se � passivo intelectualmente, n�o
conseguiria ser livre moralmente. Reciprocamente, por�m, se a sua moral consiste
exclusivamente em uma submiss�o � autoridade adulta, e se os �nicos relacionamentos
sociais que constituem a vida da classe s�o os que ligam cada aluno individualmente a um
mestre que det�m todos os poderes, ele tamb�m n�o conseguiria ser ativo
intelectualmente."( Piaget, Jean- Para onde vai a educa��o?, p�g. 61)
Meu objetivo com o trabalho
realizado era poder trazer aos professores os preceitos da educa��o construtivista e
poder alterar assim a metodologia empregada visando com isso aumentar o �ndice de
aprendizagem dos alunos.
Em primeiro lugar, fiz um
levantamento dos principais problemas apresentados na escola, quais as demandas mais
prementes e os motivos das dificuldades que a escola apresentava. Minha inten��o era
fazer um levantamento inicial para determinar qual seria a abordagem a ser melhor
utilizada, que abarca-se solucionar a problem�tica principal que existisse na escola.
Seria necess�rio observar o funcionamento do col�gio e conversar com pais, alunos e
professores, bem como conhecer o funcionamento da administra��o escolar, para fazer todo
esse levantamento.
Em segundo lugar, o planejamento
propriamente dito do projeto, qual a fundamenta��o te�rica escolhida, porque e como
iria se proceder para implantar a metodologia espec�fica; implicava estabelecer um rumo
de trabalho sobre o que foi levantado como problem�tica referencial.
O terceiro ponto se deve a
implementa��o do trabalho propriamente dito, se curso e desfecho: inicia-se pela
aplica��o das id�ias ao ambiente escolar, desenvolvendo um trabalho com os alunos,
conjuntamente interligando com uma elabora��o da maneira que a escola utilizava para
tratar as dificuldades dos alunos e, por fim, trabalhar com os pr�prios professores uma
modifica��o de sua did�tica visando abarcar novos pontos de vista sobre as dificuldades
escolares. Assim, o trabalho visava modificar tr�s pontos principais que formam a escola:
a maneira do aluno de aprender, sua vis�o pessoal quanto ao conhecimento, a escola
enquanto institui��o, qual o significado da aprendizagem dentro desta, o conceito
sub-r�ptico de aluno e o seu papel enquanto ve�culo transmissor de cultura dentro da
comunidade que pertence. Por fim, o professor e sua did�tica, sua forma de transmitir o
saber e o reconhecimento da import�ncia do que ele significa para o aluno, pois muitas
vezes serve como modelo de conduta e de comportamento para este, muitas vezes por toda
vida.
Por fim escrevo uma conclus�o
acerca de tudo que pude apurar neste trabalho por mim realizado, o que faltou ser colocado
na pr�tica, os pontos que tiveram de ser revistos e o que foi preciso acrescentar para
poder chegar aos objetivos propostos. Por certo que um trabalho nunca finaliza
completamente e nem mesmo temos a pretens�o de solucionar todos os problemas de uma
escola, mas um trabalho serve para abrir "brechas" institucionais que nos
possibilitam abordar a quest�o da aprendizagem sob um novo �ngulo e vislumbrar sa�das
poss�veis para a nossa educa��o. um trabalho serve para pelo menos gerar inquieta��es
e interroga��es destes agentes da escola, professor, dire��o e aluno.
AN�LISE DE COMO A
PRODU��O ART�STICA CRIA NOVAS ESTRUTURAS DE CONSTRU��ES COGNITIVAS A PARTIR DA OBRA
IDADE DA TERRA, DE GLAUBER ROCHA
"Em 6 de junho, morre
seu pai, Adamastor Br�ulio Silva Rocha.
Em 2 de setembro, A Idade da
Terra � exibido na Mostra Internacional de Cinema de Veneza, onde provoca cr�ticas
negativas. Ap�s a divulga��o do resultado oficial do j�ri, Glauber briga e insulta
Louis Malle (um dos vencedores do festival, com o seu Atlantic City), acusando-o de
"fascista" e de "cineasta de segunda categoria". Agride tamb�m a
dire��o do festival que, segundo ele, favoreceu o cinema comercial. Por causa do
esc�ndalo, A Idade da Terra fica de fora do Festival de Cinema Ib�rico e
Latino-Americano de Biarritz.
Em dezembro, vai a Paris
acompanhar uma retrospectiva de seus filmes. ." (retirado da homepage
Tempo Glauber http://www.alternex.com.br/~tempoglauber)
O FILME
O filme de Glauber Rocha
inicia-se com um dos personagens quebrando ovos, dizendo " meu pai me traiu, o
p�ssaro da eternidade n�o existe, s� o real � eterno". Interessante esta cena
inicial, pois o ovo sempre representa a vida, a g�nese de tudo. Glauber retrata neste
momento a trai��o, o povo tra�do pelo pai, pelo governante, " s� o rela �
eterno" diz o personagem, � o real do prazer, da mis�ria, o futuro destru�do.
Interessante como Glauber ir� retratar o in�cio, o nascimento do Brasil. Se na cena
primeira j� nasce sob o signo de uma trai��o, logo a seguir Glauber mostra o �ndio,
esse nossa antepassado, atrav�s de uma festa onde mistura-se o prazer, a religi�o a
loucura. � nessa busca de prazer beirando o corpo em si, o movimento, o gozo, que
chega-se ao religioso como ritual, catarse, momento de loucura geral, licen�a para
enlouquecer. Disso, na cena seguinte, resultar� o carnaval, agora j� organizada,
elaborada, a festa ind�gena torna-se uma organiza��o sempre de massa, do grupo. No meio
do som ensurdecedor Glauber demonstra o pol�tico, o chefe acenando, buscando cativar
todos. � o surgimento do salvador, do messias. Glauber det�m o filme para fazer uma
longa considera��o socio-antropol�gica do Brasil, da nossa pol�tica.
� interessante como Glauber ir�
retratar o povo brasileiro, seja os ind�genas, seja o negro a posteori: � sempre a massa
em meio a rituais, as festividades. A religiosidade do brasileiro � retratada aqui como
um ritual de prazer, uma coisa primitiva onde a religi�o torna-se um asseguramento do
prazer compartilhado, permitido. � sempre algo confuso, gigantesco. � interessante que a
polit�ca surge como uma manipula��o deste sentimento, ao contr�rio do que deveria ser,
ou seja, uma reflex�o e um planejamento de estrat�gias. A fala do personagem onde faz
uma an�lise da pol�tica brasileira, � uma fala universit�ria, intelectual, distante
das imagens da massa, da turba. Parece totalmente deslocada do contexto. Ainda mais que se
considere que � uma an�lise de uma pol�tica passada, n�o � uma influ�ncia ou uma
produ��o atual de pol�tica, ou seja, n�o se est� produzindo pol�tica, est� se
analisando ela. Glauber parece diferenciar aqui a pol�tica praticada, das massas, das
festas, da religi�o como um ritual de catarse, da outra pol�tica intelectual, que
analisa mas no entanto n�o faz a pol�tica, n�o participa do momento. O momento �
sempre a massa e o caos.
� interessante que Glauber
apreende o presente nesse del�rio, nessa confus�o alucinada. A certa altura, um
personagem diz " a 200 anos os escravos est�o construindo a minha pir�mide" e
Glauber compara os edif�cios modernos com a escravid�o antiga, onde os homens trabalham
guiados por um del�rio, pelos sonhos dos poderosos. A imagem do americano alucinado,
sonhando com suas pir�mides, mostra uma sociedade se movendo guiada sem reflex�o, sem
objetivo racional: � a primazia do sentimento, do irracional. E Glauber demonstra bem
que, se vivemos em uma abertura, no entanto nada mudou. Isso fica claro quando o
personagem diz que a verdadeira dicotomia n�o era entre comunistas e capitalistas, mas
entre ricos e pobres. A imagem � do rico agarrando-se as est�tuas, morrendo entre os
bra�os de seu escravo. Glauber n�o mostra uma separa��o muito clara entre ricos e
pobres, mas mostra como se ambos estivessem orientados por uma religi�o do absurdo, como
se n�o soubessem para onde se dirigem.
O messias que surge � o
guerreiro, a religiosidade do camdombl�, da magia. Os s�mbolos de chefe s�o passados
para aquele que luta, que guerrear�. A luta m�tica com o diabo, a tenta��o, Glauber
retrata os chefes da na��o do Brasil lutando com a tenta��o do poder, da riqueza. O
chefe � eleito para lutar, mas para lutar principalmente contra si mesmo. A id�ia do
messias, do pol�tico que necessita, como cristo, vencer as tenta��es do dem�nio. O
dem�nio diz " quero a sua fidelidade, te darei toda esta terra". A Terra arde
no fogo enquanto o diabo observa. A luta torna-se uma disputa, aos olhos de Glauber, entre
os poderosos do Brasil e os do EUA, onde no fim prega-se o conchavo, a trai��o da
p�tria. O guerreiro sucumbe as tenta��es do inimigo, vende-se e, n�o por acaso, a
pr�xima cena � de erotismo, sexualidade. o pacto maldito resultando na busca do prazer
total, o personagem diz " n�o posso esperar um s�culo como heran�a". � a
id�ia da impot�ncia, a perda da terra para algu�m mais poderoso. Depois surge a mulher,
dizendo-se oper�ria do sexo, buscando o amor. Qual sua profiss�o, indaga o homem, e ela
responde " castradora de homens".
Vemos aqui em Glauber como toda
essa entrega do Brasil para os estrangeiros gera n�o o prazer, mas a castra��o, a perda
deste. Em Glauber � muito forte esse mito da esquerda brasileira do povo explorado,
subjugado pelos estrangeiros. " Nossos alicerces foram destru�dos" grita o
personagem na pr�xima cena, e repete o mesmo texto diversas vezes, como uma profecia.
Glauber aqui parece evocar- e em todo esse filme muitas falas ser�o repetidas at� a
exaust�o- como esse car�ter prof�tico e desesperado � repetido, como na pol�tica
brasileira, que � o que Glauber procura retratar aqui n�o como ela � mas sua estrutura-
como as profecias podem ser usadas em v�rios momentos, tornando-se como preceitos
m�ximos, palavras utilizadas para se conseguir manipular as massas e obter o poder.
Parece que esse sentimento de desespero � comum e banal, sempre podendo ser usado embora,
e o filme deixa bem claro, as queixas n�o tem efeito nenhum. O filme de Glauber �
sufocante, n�o h� sa�da, apenas constata��o do que acontece. Em nenhum momento parece
que algo ir� se reverter ou se modificar�.
As falas se repetem e mostram
tamb�m os l�deres dos pa�ses pobres como b�rbaros, contr�rios a civiliza��o, vendo
esta como amea�a. A imagem do messias, fazedor de milagres, liga-se com a m�sica de
Get�lio Vargas, o populista, o milagre de um outro Brasil, de uma nova na��o. Surge a
imagem do cristo revolucion�rio, da igreja como uma forma de revolu��o, da op��o pela
pobreza como uma luta, uma religi�o como transmissora de ideais. Mostra-se a luta, os
neg�cios escusos( sob o emblema da coca-cola, multinacional), a religi�o, a festa at�
acabar na multid�o na praia no meio do samba. a massa sempre controlada pelo ritual, pela
loucura do ritual.
RELATO DE GLAUBER
SOBRE O FILME
Discurso final, em off, de A
Idade da Terra.
"No dia em que Pasolini,
o grande poeta italiano, foi assassinado, eu pensei em filmar a vida de Cristo no Terceiro
Mundo. Pasolini filmou a vida de Cristo na mesma �poca em que Jo�o XXIII quebrava o
imobilismo ideol�gico da Igreja Cat�lica em rela��o aos problemas dos povos
subdesenvolvidos do Terceiro Mundo e tamb�m em rela��o � classe oper�ria europ�ia.
Foi um renascimento. A ressurrei��o de um Cristo que n�o era adorado na cruz, mas um
Cristo que era venerado, revivido, revolucionado num �xtase da ressurrei��o.
Sobre o cad�ver de Pasolini,
eu pensava que o Cristo era um fen�meno novo, primitivo numa civiliza��o muito
primitiva, muito nova. (...)
S�o quinhentos anos de
civiliza��o branca, portuguesa, europ�ia, misturada com �ndios e negros e s�o
mil�nios al�m da medida dos tempos aritm�ticos ou da loucura matem�tica que n�o se
sabe de onde veio nem mesmo a nebulosa do caos, no nada. Ou seja, Deus ou nada, quem n�o
acredita em Deus, acredita no nada. Se nada for Deus...
Ent�o, � muito r�pida a
hist�ria. � uma hist�ria de uma velocidade fant�stica, � um desespero lis�rgico.
(...)
Aqui, por exemplo, em
Bras�lia, neste palco fant�stico no cora��o do planalto Brasileiro, forte
irradia��o, luz do Terceiro Mundo, numa met�fora que n�o se realiza na hist�ria, mas
preenche um sentimento de grandeza, a vis�o do para�so, essa pir�mide, esta pir�mide
que � a geometria dram�tica do estado social, no v�rtice o poder, embaixo, as bases e
depois os labirintos intrincados das media��es...
Toda essa ideologia do amor
se concentraria no cristianismo, que � uma religi�o linda dos povos africanos,
asi�ticos, latino-americanos, dos povos totais, um cristianismo que n�o se realiza
somente na Igreja Cat�lica, mas em todas as religi�es que encontram seus s�mbolos mais
profundos, mais rec�nditos, mais eternos , mais subterr�neos, mais perdidos, a figura do
Cristo, um Cristo que n�o est� morto, mas est� vivo espalhando amor e criatividade. A
busca da eternidade e a vit�ria sobre a morte, porque a morte � uma estrutura��o
determinada por um c�digo fatalista, talvez de origens sexuais ou gen�ticas, quien lo
sabe, pero se pode vencer a morte." [continua]
"Ent�o, a civiliza��o
� muito pequena. Antes de Cristo e depois de Cristo. Um desenvolvimento tecnol�gico na
Europa, econ�mico, o mercantilismo, capitalismo, neocapitalismo, socialismo, o
transcapitalismo, o trans-socialismo, o anarco-construtivismo, todo um desespero de uma
humanidade em busca de uma sociedade perfeita, as utopias, a marcha... Conflitos
religiosos entre cat�licos e protestantes provocaram explos�es, navega��es, guerras,
invas�es mouras na Europa, invas�es crist�s na �frica do Norte; Espanha, Portugal e
Inglaterra ocupam a Am�rica no outro lado. �ndios massacrados, negros importados,
guerras de independ�ncia, latif�ndios e ind�strias, guerras de latif�ndios e
ind�strias, guerras de ind�strias e latif�ndios, guerras civis, levantes, caudilhos,
guerras, guerrilheiros, revolu��es, golpes de estados, democracias, regress�es,
avan�os, recuos, sacrif�cios, mart�rios, Am�rica. Am�rica do Norte se desenvolve.
O desenvolvimento
tecnol�gico americano leva a civiliza��o ao mundo do s�culo XX. A Revolu��o
Sovi�tica, a Revolu��o Sovi�tica, a Re-volu��o Sovi�tica de 1917 comandada por
Lenine, Trotski e Stalin subverte completamente o discurso capitalista norte-americano.
Enquanto isso, os povos subdesenvolvidos da Am�rica Latina, da �frica e da �sia pagam o
pre�o do desenvolvimento tecnol�gico da Europa, dos Estados Unidos, da Europa
capitalista, da Europa socialista, da Europa cat�lica, da Europa protestante, da Europa
at�ia, dos Estados Unidos.
Os povos subdesenvolvidos
est�o na base da pir�mide. N�o podem fazer nada. Todos buscam a paz. Todos devem buscar
a paz. Existir� uma s�ntese dial�tica entre o capitalismo e o comunismo, estou certo
disso. E do Terceiro Mundo. Seria o nascimento da nova, da verdadeira democracia. A
democracia n�o � socialista, n�o � comunista, n�o � capitalista. A democracia n�o
tem adjetivos.
A democracia � o reinado do
povo. A de-mo-cra-cia, a democracia � o desreinado do povo. Sabemos todos que morremos de
fome nos terceiros mundos, sabemos todos das crian�as pobres, dos velhos abandonados, dos
loucos famintos, tanta mis�ria, tanta fei�ra, tanta desgra�a, sabemos todos disso.
� necess�ria uma
revolu��o econ�mica, social, tecnol�gica, cultural, espiritual, sexual, a fim de que
as pessoas possam realmente viver o prazer. O Brasil � um pa�s grande, a Am�rica
Latina, �frica, n�o se pode pensar num s� pa�s. Temos que multinacionalizar,
internacionalizar o mundo dentro de um regime interdemocr�tico, com a grande
contribui��o do cristianismo e de outras religi�es, todas as religi�es. O cristianismo
e todas as religi�es s�o as mesmas religi�es. Entre o entendimento dos religiosos e dos
pol�ticos convertidos ao amor... " (retirado da homepage Tempo Glauber
http://www.alternex.com.br/~tempoglauber)
AN�LISE
Este filme de Glauber � na
verdade bastante intenso. Tanto as imagens quanto a m�sica est�o presentes de uma forma
excessiva, mas n�o � um excesso por um descuido de Glauber, � um excesso da pr�pria
linguagem que o filme utiliza para retratar aquilo que se pretende.
" A nossa questiona��o
da obra acha-se perturbada, porque n�o perguntamos pela obra, mas antes, em parte, por
uma coisa e, em parte por um apetrecho. (...) � a questiona��o da est�tica." (Heidegger,
Martin-A origem da obra de arte)
A massa sempre aparece como
alienada, mas uma aliena��o que para Glauber est� ligada aos aspectos culturais do
brasileiro, sua religiosidade, ele passa a id�ia da festa popular como um convite aos
prazeres e a religi�o como um rito de prazer. A transcend�ncia, para n�s, ainda
permaneceria ligada ao prazer, em uma vers�o primitiva.
" ... estar�o elas
porventura aqui em si pr�prias, como as obras que elas mesmas s�o, ou n�o estar�o
antes aqui como objetos do funcionamento das coisas no mundo da arte( Kunstbetrieb)?"
(Heidegger, Martin-A origem da obra de arte)
A domina��o e o poder no
Brasil, o mito do estrangeiro explorador que vem usurpar as nossas riquezas e dos
pol�ticos brasileiros que permitem isso em troca de uma participa��o, adiando sempre a
ocupa��o deste lugar de verdadeiro l�der, de chefe e guia, � retratada em Glauber no
mito do messias que tem de resistir as tenta��es, como Jesus, com a diferen�a que
nossos messias sucumbem.
"A obra pertence
enquanto obra ao campo que � aberto por ela pr�pria. Porque o ser-obra da obra adv�m,
em tal abertura. "(Heidegger, Martin-A origem da obra de arte)
Glauber ultrapassa as barreiras
que separam mito de realidade, de religiosidade. Nele o que � fantasia e realidade est�o
misturadas, as fantasias m�ticas guiando a realidade e a construindo e a espera do
salvador, o eterno sonho do messias. em Glauber tem-se a impress�o de que sempre ansiamos
por um salvador da p�tria que n�o sucumba aos prazeres terrenos. Essa fantasia de
explora��o, do estrangeiro nos dominando, de um povo que se entrega aos estrangeiros,
Glauber retrata no mito do messias e na hist�ria de Cristo que as classes populares s�o
manipuladas exatamente porque tem o desejo de sempre quererem construir uma cidadania pela
via religiosa, ou seja, ainda conservam o desejo de serem guiadas, da imagem primitiva e
religiosa do homem que vem fazer milagres. Essa vis�o infantil � que faz com que sejam
facilmente manipulados e por isso o desespero que surge, no pensamento glauberiano, �
fruto de que nossos messias sempre se pervertem, sempre vendem-se. O sonho que o
brasileiro conserva � de que um dia surgir� um messias capaz de resistir as tenta��es
do dem�nio, � uma revivic�ncia m�tica religiosa em uma vers�o moderna. O sentimento
de nacionalidade, do monstro estrangeiro, � revestido de cores religiosas e � nessa
confus�o entre realidade, mito e religi�o que se constitui a pol�tica brasileira. A
nacionalidade e a p�tria somente s�o evocadas para sustentar a id�ia do messias, do
libertador. A imagem dos fara�s erguendo pir�mides, dos trabalhadores sendo guiados pelo
del�rio dos poderosos, mostra em Glauber como a necessidade dos ideais, do sentimento de
fazer parte de algo maior surge de forma infantil, ou seja, mesmo so deiais mais absurdos
e delirantes encontram solo f�rtil em um povo marcado por uma religiosidade da
irracionalidade, da catarse. Heiddeger fala como � complexa a rela��o obra-verdade,
onde esta representa a segunda, mas tamb�m a cont�m:
" A realidade da obra
determina-se a partir do que na obra est� em obra, a partir do acontecer( Geschehen) da
verdade. (...) Na obra, o acontecimento da verdade est� em obra. Mas o que assim est� em
obra, est� tamb�m, de fato, na obra." (Heidegger, Martin- A origem da obra de
arte)
O mais interessante � notar como
Glauber constr�i isso tudo. N�o podemos nos esquecer que este filme, Idade da Terra, foi
produzido nos anos 80, na queda da ditadura. Os sonhos ut�picos que os brasileiros viviam
ent�o certamente deve ter inspirado Glauber e o fez refletir que o maior problema n�o
era a ditadura, mas a facilidade com que o povo brasileiro podia ser facilmente manipulado
atrav�s da combina��o de elementos religiosos, sexuais, m�ticos e sociais.
" Mas o ser-criado da
obra s� se deixa manifestamente compreender a partir do processo de cria��o. Assim, por
imposi��o das pr�prias coisas, temos de aceder a levar em conta a atividade do artista
paras encontrar a origem da obra de arte." (Heidegger, Martin- A origem da obra
de arte)
A obra art�stica aqui de Glauber
serve como ponto de an�lise para n�s porque podemos ver como o artista pega um momento
de sua �poca e consegue transmitir algo que transcende aquilo que ele pr�prio sabia at�
ent�o. Glauber Rocha consegue refletir sobre o que at� ent�o considerava como verdade e
transforma em um novo testemunho o retrato das rela��es de poder no Brasil. Se a
esquerda brasileira antes combatia a ditadura, com o fim desta e a continuidade das
injusti�as sociais, Glauber percebe que tinha de revisar seus conceitos, sua vis�o sobre
polit�ca. A manipula��o do poder e do povo pelos ricos tinha que agora ser explicada
por uma outra constru��o que n�o a vers�o da esquerda, que j� n�o conseguia mais
explicar a complexidade de nosso pa�s. Se alguns elementos da esquerda ainda est�o
presentes, como a id�ia de ser explorado pelo capital estrangeiro, Glauber no entanto
aborda de forma nova e irreverente como ele entende a domina��o dos brasileiros. Glauber
passa de uma id�ia de poder como uma viol�ncia praticada ou pelo crime, para uma
domina��o realizada pela fantasia, pelos mitos.
"A obra de arte � um
objeto que, independentemente do modo pelo qual as pessoas a consomem, vive no tempo, como
todo objeto f�sico. Esta defini��o compreende tamb�m as obras de arte ditas "
conceituais", que �s vezes se concluem com um gesto, uma cita��o, uma resposta
puramente mental."( Eco, Umberto- Sobre os espelhos e outros ensaios, O tempo da
arte)
Neste filme o que est� em
quest�o n�o � que o povo seja dominado porque os ricos possuam maior poder econ�mico
ou pela viol�ncia e manipula��o da pol�tica, como at� ent�o a esquerda acreditava
funcionar o poder. Nem mesmo sobrevive a tese marxista da domina��o dos meios de
produ��o. Esse filme � uma obra de arte porque Glauber foi al�m das constru��es de
sua �poca que existiam para dar conta dos mecanismos de poder no nosso pa�s. Glauber
conseguiu transmitir um pensamento original, uma nova forma de abordar o poder e seus
mecanismos. Ele demonstra como a fantasia � o real, como os mitos conservam sua for�a e
atuam com tal for�a e desenvoltura que substituem a necessidade de ideais de um povo. Em
um pa�s onde a lei, os valores e os ideais sociais desfalecem, surge a religi�o no
retorno m�tico do messias que derrotar� o mal e far� os milagres e o sofrimento do povo
nesse eterno fracasso do mito. A religiosidade permanece no entanto, no fasc�nio da terra
prometida e no absurdo do pa�s que busca a independ�ncia embora j� seja independente. A
pr�pria figura do mal, na personifica��o do estrangeiro, � o retrato dos moinhos tidos
como monstros embora, o que Glauber nos mostra muito bem, � que s� servem para criar a
necessidade de Dom Quixotes. Essa vis�o inovadora da realidade brasileira foi um ato de
cria��o de Glauber, embora talvez a esquerda brasileira at� hoje n�o se tenha
apercebido disso.