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CAPA
AGRADECIMENTOS
DADOS PESSOAIS
�NDICE
INTRODU��O
LOCAL
PROBLEMAS
FAM�LIA
SUJEITO
LOGO
SOE
PROJETOS FUTUROS
INFORM�TICA
ESCOLHA DO M�TODO
ESTRAT�GIAS DE APRENDIZAGEM
PROFESSORES
GRUPO ESCOLHIDO
CRONOGRAMA
M�TODO UTILIZADO
AMBIENTE DA INFORM�TICA
INTERNET
L�GICA DO COMPUTADOR
JOGOS
CRIAN�A HOJE
LOGO NA AULA
OUTROS USOS  DO LOGO
DA TV A INTERNET
EIXO CENTRAL
A IDADE DA TERRA
FILME
GLAUBER
AN�LISE
CONCLUS�O
BIBLIOGRAFIA
E-MAIL

 

O ensino enquanto uma constru��o- possibilidades de uma interven��o atrav�s da linguagem LOGO

A interven��o na institui��o escola- professores e SOE

Conclus�es e projetos futuros a partir do trabalho realizado

Trabalhos desenvolvidos com a inform�tica

M�todo escolhido e desenvolvimento do trabalho

Desenvolvimento de estrat�gias de aprendizagem

A segunda parte, o trabalho com o corpo docente

 

 

 

O ENSINO ENQUANTO UMA CONSTRU��O- POSSIBILIDADES DE INTERVEN��O ATRAV�S DA LINGUAGEM LOGO

Atrav�s de v�rios m�todos que possibilitassem trazer a id�ia central do aprendizado como uma forma de constru��o, me deparei com a linguagem logo. O objetivo de utilizar essa linguagem foi poder trazer at� a escola um m�todo que trabalha-se com os alunos em dificuldades e os auxiliassem a construir solu��es, ao inv�s de apenas repeti-las.

Como foi demonstrado antes, o problema do fracasso escolar foi abordado de v�rias nuances, desde o papel da fam�lia e , agora, procurava estabelecer um m�todo em aux�lio a aprendizagem que pudesse estimular uma educa��o construtora. como vimos acima, Piaget sup�e que a crian�a n�o pode estar passiva no processo de aprendizagem, mas interagindo constantemente e buscando inventar suas solu��es, de acordo com sua hist�ria pessoal e seu contexto de viv�ncia. A constru��o de um conhecimento se d� em sua aplica��o em um dado momento da historia da cultura em que o sujeito vive: portanto, era necess�rio superar o modelo de escola onde o saber possui status de verdade absoluta para o modelo de saber como processo construtivo. Para tanto, inicio esta interven��o apresentando a escola a linguagem logo.

 

Ela se baseia no vasto trabalho realizado pela prof. L�a Fagundes:

"Temos realizado trabalhos de pesquisa, na linha da Psicologia piagetiana, desde 1974, fundamentalmente na �rea do desenvolvimento dos mecanismos perceptivos e na �rea do desenvolvimento das opera��es mentais. A partir de 1979 ocorre para n�s a passagem da "investiga��o artesanal" para a "investiga��o dos processos cognitivos da crian�a em atividade de programa��o". Neste quadro, a realiza��o de dois projetos de pesquisa no ano de 1982 (Fagundes, 1982; Mosca & Fagundes, 1982) permitiram: a) dar uma resposta positiva quanto � possibilidade de uso do microcomputador com a linguagem Logo por escolares; b) verificar que a intera��o de crian�as com o mundo Logo pode ser utilizada como "instrumento para observa��o" do funcionamento do racioc�nio dessas crian�as; c) levantar a hip�tese de que, no emprego da linguagem Logo, para a constru��o de formas geom�tricas no monitor, a crian�a utiliza procedimentos mentais modulares de racioc�nio na atividade mental de programa��o. "(Fagundes, L�a da Cruz & Mosca, Paulo Roberto Ferrari. Intera��o com computador de crian�as com dificuldade de aprendizagem: uma abordagem platina Arquivos Brasileiros de Psicologia, 37(1):32-48, jan.lmar. 1985.)

 

Esse trabalho de L�a Fagundes a prop�sito da linguagem logo, se baseia no seguinte conceito de imagem mental:

"A no��o de "imagem mental" tem urna hist�ria "tumultuosa". (Pylyshyn, 1973). Plat�o, por exemplo, colocava que o esp�rito era como massa de barro onde as percep��es deixavam os seus tra�os, sendo que estes tra�os poderiam ser evocados depois. No s�culo XVIII a no��o de "imagem" fica confundida com a no��o de "id�ia", e no in�cio do s�culo XX a imagem fica como um tra�o residual das sensa��es (Binet; Galton, 1883). Ao interregno da Escola de Wurzug (com as discuss�es c�lebres sobre a possibilidade de pensamento sem imagem), Watson ( 1913 ) volta a colocar a imagem como um fruto da percep��o. A escola russa, liderada por Sechenov e Pavlov, coloca a imagem mental como uma rea��o do organismo frente a est�mulos externos (Luria, 1974).

O estudo sobre as alucina��es de Holt (l964), o neobehaviorismo de Hebb (1968) e os trabalho de Burt (1962) e de Richardson, por�m, reabilitam a no��o de "imagem" como algo independente da percep��o. No que se refere �s crian�as, a independ�ncia de imagem em rela��o � percep��o est� j� impl�cita nos trabalhos de Paivio, Rowler e Reese no Imagery in Children Learning Symposium, promovido pela Society for Research in Child Developinent em 1969. A partir da� o conceito de "imagem" fica como uma evoca��o das qualidades perceptivas de um objeto ou evento na aus�ncia deste Objeto ou evento. Em rela��o ao desenvolvimento das imagens, a escola piagetiana mostrou que a imagem � um prolongamento da percep��o: ela surge no final do per�odo sens�rio-motor, a partir da imita��o interiorizada da atividade perceptiva (Piaget,1964). Por outro lado, Piaget & Inhelder (1966) mostram que a estutura de imagem mental evolui com o desenvolvimento cognitivo, sendo reprodutora est�tica na crian�a pr�-operat�ria e reprodutora cinem�tica e de transforma��o ou mesmo antecipat�ria na crian�a operat�ria. Este processo ocorre pela aplica��o das opera��es mentais sobre as imagens mentais. (Fagundes, L�a da Cruz & Mosca, Paulo Roberto Ferrari. Intera��o com computador de crian�as com dificuldade de aprendizagem: uma abordagem platina Arquivos Brasileiros de Psicologia, 37(1):32-48, jan.lmar. 1985.)

 

Nesse sentido, a linguagem logo serve para testarmos o quanto a escola est� conseguindo oferecer um ambiente construtivista positivo para os alunos, e quais suas principais defici�ncias na produ��o de um racioc�nio construtivista. auxilia tamb�m a melhorar a capacidade de constru��o dos alunos. Os primeiros trabalhos que deram a origem a linguagem logo, foram:

"Os trabalhos iniciais na �rea da computar vision foram sobre a simula��o redes neuronais (Pitts & McCulloch, 1947); depois, por�m, envolvem no��es mais abstratas como perceptrons (Minsky & Papert, 1968), discrimina��o linear (Ni�lson, 1965) e caracteres classificadores (Uhr & Vossler, 1963) Guzman (l968) constr�i um sistema para recogni��o de objetos de tr�s dimens�es (Programa SEE); Clower (l971) e Huffman (l971) modificam modelo no que se refere � interpreta��o de indicadores de jun��es. Nake Rosenfeld (l972) t�m nesta linha uma abordagem sint�tica para a recogni��o padr�es, sendo o output uma descri��o estrutural do input .(sem que ocorra uma tomada de decis�o sobre a classe do input).

Walz (l975) amplifica o modelo de Guzman (l968) envolvendo a� um algoritmo de filtra��o que permite levar em conta as diferen�as de ilumina��o local. Hanson & Riseman (l978) ampliam o modelo de Walz (l975) no que concerne � segmenta��o de objetos. Por outro lado, Rosenfeld e outros ampliam o modelo de Walz (l975) para detec��o de clusters, Davis & Rosenfeld (l978) para detec��o de curvas, Ullman (l976) para detec��o de contornos, Barrow & Tenembaum (l978) para a orienta��o em superficie de cenas .

Tenembaum & Barrow (l977) prop�em um sistema para detec��o de cenas naturais, que envolve colocar um modelo de camas, paredes, janelas etc. no sistema ; � feita ent�o uma implementa��o da teoria dos frames - a qual � seguida tamb�m em Brady & Wielenger, Kuipers (l978) e no projeto Visions de Hanson & Riseman (1978).

Levando em conta ainda os trabalhos de Lesser & Erinan (l977), Marr (l977), Marr & Nishishara (l978) e as revis�es de Brady (1982a, 1982b), no que concerne �s preocupa��es de nosso trabalho, as unidades de reconhecimento usadas tendem a ser linhas e cantos no inicio; hoje, por�m, existe uma tend�ncia para o uso de fremes como unidades de representa��o, al�m de n�veis de representa��o como v�rtices e segmentos, regi�es, volumes, objetos, esquemas.

Ao n�vel da computa��o gr�fica, o uso de " pacotes" (no qual ficam embutidas certas no��es geom�tricas) aparece desde o trabalho inicial de Sutherland (l963) sobre o sistema Sketchpad at� hoje (Foley & van Dam, 1982). Estes conceitos de "pacotes" existem tamb�m nos sistemas que assumem uma representa��o proposicional da imagem, desde os seminais projetos do sistema de perguntas-e-respostas de Green & Raphael (l968), do sistema Deducom de Slagle (l971), do sistema Shakey de Raphael (l968) e do cl�ssico sistema de Winograd (l972).

O sistema tipo estrutura de dados, aparecido em Newell & Simon (l972), nos trabalhos de Lincoln no MIT, em Minsky (l968), Reitman (l965) e Fridge, pode ser visto como uma representa��o proposicional, onde (informalmente) as rela��es entre as proposi��es s�o tornadas expl�citas.

N�o � inten��o dos autores reduzir modelos de sistemas cognitivos humanos a modelos de sistemas de intelig�ncia-artificial. Por�m esta revis�o coloca o problema (para os autores) da exist�ncia dos m�dulos na imagem mental das crian�as, em especial as unidades desta imagem e a geometria de sua constru��o. "(Fagundes, L�a da Cruz & Mosca, Paulo Roberto Ferrari. Intera��o com computador de crian�as com dificuldade de aprendizagem: uma abordagem platina Arquivos Brasileiros de Psicologia, 37(1):32-48, jan.lmar. 1985.)

 

A linguagem logo vem ent�o em supl�ncia para auxiliar o trabalho de constru��o do conhecimento dentro da escola. Serve como instrumento medidor e desenvolvedor do racioc�nio construtivista. Todo o conceito de imagem mental tem seu correlato na teoria Piagetiana, donde a linguagem logo busca seus substratos para possibilitar suas caracter�sticas educativas.

"A partir de nossa tradi��o piagetiana, dos nossos trabalhos anteriores sobre o desenvolvimento da intelig�ncia, nas crian�as que est�o programando em Logo e da revis�o j� esbo�ada, concebemos o problema-chave de modelizar o funcionamento cognitivo da crian�a que est� programando em Logo no que se refere �s intera��es entre suas imagens mentais e sua programa��o em Logo. Nossa abordagem ocorre dentro da psicologia piagetiana, acoplada a preocupa��es sobre o processamento da informa��o.

Concebemos como primeiro grande problema o das conceitualiza��es da crian�a em atividade de programa��o de desenhos sobre sua imagem mental. Dentro deste problema procuramos investigar a an�lise que a crian�a faz da imagem do desenho pretendido, em especial o uso de partes significativas (m�dulos) e a an�lise que ela faz das rela��es entre essas partes. Quanto a isso, importa para n�s a forma dessas partes, a nitidez delas e as rela��es espaciais (geom�tricas) das partes entre si e com o todo.

Dentro desse primeiro grande problema, o segundo subproblema � o da seq��ncia da an�lise da imagem mental quer das partes entre si, quer das idas e vindas da an�lise sobre a imagem. O terceiro subproblema envolve a exist�ncia para a crian�a de seq��ncias alternativas na an�lise da imagem mental, bela como a natureza em s�rie ou em paralelo dessas seq��ncias.

O segundo grande problema envolve as conceitualiza��es da crian�a sobre a programa��o em Logo. Em primeiro lugar envolve a significa��o dos procedimentos Logo (quer dos comandos primitivos, quer dos procedimentos definidos como programas) para a crian�a. Em segundo lugar envolve a defini��o dos m�dulos de programa��o: o processo de constru��o dos m�dulos, a estrutura final dos m�dulos e a significa��o destes m�dulos para a crian�a.

Em terceiro lugar envolve conceitualiza��es que a crian�a faz sobre os bugs de programa��o e sobre as atividades de debugging; no caso, isso implica a investiga��o do tipo de supera��o do bug e tamb�m o processo de reestrutura��o das conceitualiza��es.

O terceiro grande problema envolve o desenvolvimento dos dois tipos de conceitualiza��es citados antes (sobre as imagens mentais e sobre a programa��o em Logo) durante as sess�es de trabalho no computador. Em especial isso implica o progresso da an�lise feita pela crian�a sobre suas imagens mentais e o progresso de sua atividade de programa��o (complexidade/simplicidade na elabora��o de programas em Logo e tamb�m nos programas acabados). "(Fagundes, L�a da Cruz & Mosca, Paulo Roberto Ferrari. Intera��o com computador de crian�as com dificuldade de aprendizagem: uma abordagem platina Arquivos Brasileiros de Psicologia, 37(1):32-48, jan.lmar. 1985.)

 

Assim, vemos que a linguagem logo possibilita abarcar uma ampla �rea de estudo do racioc�nio humano, a partir do conceito das imagens mentais e de seu manuseio pelo sujeito. a linguagem logo � conhecida pela sua alta capacidade de gerar possibilidades e combina��es infinitas, criando assim um ambiente frut�fero para o desenvolvimento do racioc�nio por parte da crian�a. O m�todo a ser utilizado baseia-se na pesquisa de L�a e Mosca:

"Como t�cnica de investiga��o foi utilizada a descrita em Mosca & Fagundes (l982),' a qual est� baseada no "m�todo cl�nico" piagetiano. No espec�fico a este projeto de pesquisa, durante sess�es individuais de programa��o, os sujeitos desenvolveram projetos gr�ficos propostos por eles pr�prios ou sugeridos pelo experimentador. Durante a sess�o de programa��o, era solicitado ao sujeito que desenhasse a figura pretendida com l�pis e papel, era feito um interrogat�rio "cl�nico" visando acessar � fragmenta��o e � recomposi��o conceitual dos m�dulos de suas imagens mentais. Tamb�m era feito um interrogat�rio "cl�nico", visando acessar aos procedimentos pelos quais o sujeito acreditava poder realizar seu projeto, procurando a detec��o de poss�veis etapas, poss�veis m�dulos e a natureza em s�rie ou em paralelo desse planejamento mental. Al�m disso, era feito um interrogat�rio "cl�nico", durante o trabalho do sujeito no computador, visando acossar o significado atribu�do pelo sujeito aos procedimentos da linguagem Logo, o significado atribu�do aos m�dulos mentais de programa��o e �s conceitualiza��es feitas pelo sujeito sobre os problemas que apareciam durante a atividade de programa��o" (Fagundes, L�a da Cruz & Mosca, Paulo Roberto Ferrari. Intera��o com computador de crian�as com dificuldade de aprendizagem: uma abordagem platina Arquivos Brasileiros de Psicologia, 37(1):32-48, jan.lmar. 1985.)

 

A linguagem logo se divide em v�rios est�gios:

"O tipo mais inferior de estrat�gia envolve o emprego pelo sujeito de muito apoio perceptual (quer no desenho feito no papel, quer no desenho projetado na tela de TV a partir dos comandos Logo), durante a atividade de programa��o; este tipo implica a gera��o mental de procedimentos Logo a partir de retroa��es a partir da percep��o. O tipo mais elevado envolve o emprego basicamente de imagens mentais e opera��es mentais para a gera��o do programa em Logo; a separa��o entre estrat�gias baseadas na imagem mental e estrat�gias baseadas nas opera��es n�o � ainda clara para n�s. Fica claro, contudo, que este tipo mais elevado envolve a gera��o mental de procedimentos Logo, a partir basicamente de processos top-down, apoiando as estrat�gias e os procedimentos mentais ao que parece sobre o pr�prio racioc�nio operat�rio. A essa gera��o se seguem retroa��es (ap�s rodar o programa) via percep��o, mas a import�ncia dos processos top-down n�o fica obscurecida.

As estrat�gias apoiadas na percep��o e as estrat�gias apoiadas na imagem mental convivem em algumas crian�as lado a lado, podendo ser formulada a hip�tese de tr�s "n�veis": apoio predominantemente perceptivo, intermedi�rio, apoio predominantemente na imagem mental. Em rela��o � separa��o apoio na imagem/apoio s� nas opera��es mentais - isto requer uma investiga��o maior.

A linguagem logo ent�o permite abarcar o problema da aprendizagem em tr�s frentes:

"Concebemos a partir destas nossas constru��es tr�s grandes problemas para" investiga��o:

- a organiza��o das estrat�gias;

- a rela��o entre as estruturas cogn�tivas e as estrat�gias;

- a rela��o entre as "teorias em a��o" e as estrat�gias" (Fagundes, L�a da Cruz & Mosca, Paulo Roberto Ferrari. Intera��o com computador de crian�as com dificuldade de aprendizagem: uma abordagem platina Arquivos Brasileiros de Psicologia, 37(1):32-48, jan.lmar. 1985.)

 

Donde se conclui que:

" Em rela��o ao problema da organiza��o das estrat�gias, concebemos o estudo dos procedimentos mentais que realizam a coordena��o da ordem produtiva (no sentido de um procedimento Logo produzir um efeito) com a ordem teleon�mica (no sentido de a representa��o da imagem goal atuar sobre a escolha de um procedimento Logo). Quanto a isso, a rela��o entre a escolha de um procedimento e a representa��o da imagem goal nos parece como um processo complexo, pois a pr�pria representa��o do goal (imagem mental) se modifica durante a atividade de programa��o - como foi descrito antes. Um trabalho inicial sobre a organiza��o das estrat�gias, desenvolvido no LEC/UFRS, � o de Mosca & Silveira (l984).

Em rela��o ao problema da rela��o entre as estruturas cognitivas e as estrat�gias de descoberta, concebemos que os esquemas cognitivos (quer de natureza l�gico-matem�tica, quer da natureza f�sica) funcionam como sistemas "interpretadores" para o goal e para os meios de descoberta ("interpretadores" de Mosca & Fagundes, 1982). O problema geral aqui � o do relacionamento entre duas fun��es do sistema. cognitivo: a compreens�o (representada pelos esquemas cognitivos) e o �xito (representado pelas estrat�gias cognitivas). Nossa hip�tese sobre os "interpretadores" envolve aqui o papel da compreens�o em rela��o ao �xito.

Contudo, temos claro que esta rela��o n�o � t�o simples assim, pois a atividade de programa��o envolve a ativa��o de esquemas cognitivos j� possu�dos pelo sujeito, a especifica��o destes conhecimentos na representa��o de um espec�fico micromundo Logo, a aquisi��o de esquemas e a acomoda��o de esquemas. A intera��o entre todos estes processos ainda nos � desconhecida.

Um subproblema que temos investigado aqui � a natureza da infer�ncia que o sujeito estabelece entre a representa��o que ele atribui ao goal e a representa��o que ele atribui aos instrumentos de interven��o no micromundo Logo; descrevemos quanto a isso a exist�ncia de significa��es uni e multifuncionais em rela��o aos procedimentos Logo. Concebemos, como hip�tese, que estas infer�ncias significativas s�o "sustentadas" pelos esquemas cognitivos ao n�vel das representa��es do sujeito (hip�tese dos "interpretadores").

Em rela��o ao problema da rela��o entre as "teorias em a��o" (teorias desenvolvidas pelo sujeito durante a atividade de programa��o num espec�fico micromundo Logo) e as estrat�gias de descoberta, concebemos dois aspectos: o da nacionalidade das estrat�gias em fun��o das teorias desenvolvidas pelo sujeito e o do grau de forma��o e de adequa��o destas teorias. Os casos mais interessantes aqui para a investiga��o s�o os das teorias adequadas mas em forma��o (teorias lacunares eficientes) e os das teorias formadas mas inadequadas (teorias erradas)." (Fagundes, L�a da Cruz & Mosca, Paulo Roberto Ferrari. Intera��o com computador de crian�as com dificuldade de aprendizagem: uma abordagem platina Arquivos Brasileiros de Psicologia, 37(1):32-48, jan.lmar. 1985.)

 

Como vimos nessa apresenta��o da linguagem logo atrav�s dos trabalhos de L�a e Mosca, ela nos permite analisar a capacidade de racioc�nio de um aluno sob v�rios �ngulos, tomando v�rios aspectos. Permite com isso avaliar o quanto de seu aprendizado est� sendo construtivo, quais seus principais problemas e defici�ncias.

como citou L�a o confronto das teorias em a��o com as descobertas permite perceber o quanto ele pode ter sua capacidade de assimila��o comprometida ou n�o, al�m de que, como os operadores cognitivos ir�o ser desenvolvidos a partir das teorias de a��o e recombinados para conter as imagens mentais, pressup�e demonstrar como os novos conte�dos de sala de aula s�o acomodados pelo aluno, pois a passagem de um apoio predominantemente instintivo, a partir de novas reformula��es das teorias cognitivas para dar conta da organiza��o do racioc�nio l�gico operat�rio, at� a elabora��o de estrat�gias que o tornem apto ao pensamento l�gico apoiado predominantemente em imagens mentais, traz toda uma conflu�ncia de dados que nos permitem mapear a forma e as defici�ncias do aprendizado do aluno.

O logo permite isso porque:

" Atrav�s dos desenhos, estamos apresentando conceitos que seriam extremamente dif�ceis de serem compreendidos se trabalh�ssemos somente com os aspectos tradicionais de programa��o(...)as atividades gr�ficas utilizam id�ias poderosas e sofisticadas as quais, quando embutidas nas atividades gr�ficas, se tornam manipul�vies." ( Jos� Armando Valente, ann Berger Valente- Logo: conceito, aplica��o e projetos, p�g.58)

Como vemos, esses elementos do logo fazem com que ele n�o somente seja uma espantosa ferramenta de avalia��o da real capacidade construtiva da crian�a, mas tamb�m possibilita auxiliar na compreens�o de problemas que se apresentem de dif�cil solu��o para esta. Isso � fundamental porque as crian�as que repetiram a mesma s�rie v�rias vezes, por exemplo, tem dificuldade e preconceito de aprender a mat�ria, na primeira tentativa fracassada se desestimulam e tem sua autoestima afetada. com o logo, podem aprender coisas que consideram dif�ceis sem nem mesmo notar. Aprendem brincando.

Aqui, alguns exemplos utilizados com a linguagem logo, para testa a capacidade de racioc�nio construtivo das crian�as:

" Desenhos recursivos= Isso pode ser feito, por exemplo, com um pent�gono regular desenhado numa folha de papel. Se unirmos os v�rtices para formar uma estrela, como mostra a figura abaixo, um novo pent�gono � formado no centro da estrela. Uma nova estrela pode ser obtida unindo os v�rtices deste pequeno pent�gono. E assim por diante. como definir um procedimento para obter estes sucessivos pent�gonos? Quando e como este procedimento deve parar?" ( Jos� Armando Valente, ann Berger Valente- Logo: conceito, aplica��o e projetos, p�g.60)

Al�m dessas aplica��es, utilizamos um exerc�cio simples para possibilitar combinar de v�rias formas palavras, para se formar poemas:

" Podemos alterar o vocabul�rio para produzir frases ainda mais loucas ou engra�adas. Podemos ainda melhorar as frases produzidas tanto do ponto de vista sem�ntico( significado) como do ponto de vista da concord�ncia verbal." ( Jos� Armando Valente, ann Berger Valente- Logo: conceito, aplica��o e projetos)

Para ilustrar esse exemplo:

" O procedimento vocabul�rio cria tr�s vari�veis cujos valores s�o listas de nomes, verbos e objetos, respectivamente.

Aprende vocabul�rio

coloque [[ o rapaz[ [ o tigre] [ a tartaruga] [ sua irm�]]

" nomes

coloque[[ tomou mordeu bateu feriu] ‘ verbos

coloque[[ o sorvete] [ o telhado] [ o carro]] " objetos

fim" ( Jos� Armando Valente, ann Berger Valente- Logo: conceito, aplica��o e projetos, p�g. 69)

Este foi um esbo�o de um projeto simples de palavras utilizado. Cada crian�a escolhia suas palavras e tentava prever qual gera��o aleat�ria de frases o computador iria escrever. A tartaruga foi ainda preparada para executar conceitos mais complexos para as crian�as( o grupo de 12 a 14anos), pois foi criado tr�s grupos conforme a idade: o de 09-11, o de 10-12 e o 12-14. ao terceiro grupo mostramos o funcionamento da lei newtoniana:

" A vis�o aristoteliana de movimento dos objetos � muito simplista. N�o leva em considera��o uma s�rie de fatores que influem o movimento dos objetos. Por exemplo, no caso da flecha, se existe uma for�a impulsionando a flecha constantemente, porque ela eventualmente para? Por que � dif�cil alterar a dire��o de seu movimento? Estes fatos n�o foram considerados por Arist�teles. O conceito de in�rcia( de Galileu) desbancou a teoria de Arist�teles e revolucionou as id�ias sobre o movimento dos objetos. eles provocaram altera��es profundas, colocando por terra um verdadeiro castelo intelectual da �poca. e mais tarde Newton desenvolveu suas famosas leis do movimento, destruindo completamente as id�ias de Arist�teles. a primeira lei, chama-se lei da in�rcia, afirma que:

Primeira lei: Todo corpo continua no seu estado de repouso ou de movimento retil�neo uniforme, a menos que for�as atuam sobre ele fazendo-o alterar seu estado.

Segunda lei: A for�a aplicada a um objeto altera seu movimento de acordo com a rela��o f=m*a.

(...) O comportamento da tartaruga segundo as leis de Newton podem ser obtidos atrav�s:

aprenda tatdi.newton

prepare

movimento.newton

fim" ( Jos� Armando Valente, ann Berger Valente- Logo: conceito, aplica��o e projetos, p�g. 114)

Os procedimentos aqui em linguagem logo n�o s�o muito did�ticos, pois n�o coloquei os conceitos b�sicos da linguagem nem seus caracteres de comando, pois ocuparia no m�nimo um outro m�dulo de igual tamanho. Mas serve para demonstrar os tipos de exerc�cios que s�o utilizados nos grupos para estimular e medir a capacidade dos alunos de constru�rem racioc�nios l�gicos. Se eles conseguem aprender as teorias de Newton de uma forma agrad�vel e divertida e comprovando-a na pr�tica, tomam mais auto-confian�a para resolver problemas complexos e n�o desistem mais facilmente frente ao primeiro fracasso. al�m disso, a experimenta��o � parte intr�nseca da aprendizagem, como diz Piaget:

" ... o que se deseja � que o professor deixe de ser apenas um conferencista e que estimule a pesquisa e o esfor�o, ao inv�s de se contentar com a transmiss�o de solu��es j� prontas." (Jean Piaget, Para onde vai a educa��o?, p�g. 15)

Neste sentido, o projeto logo pode servir como um meio de se realizar experimentos via computador, para dar mais �nfase em determinado aspecto da mat�ria. Piaget considera a experimenta��o como um dos pontos fundamentais da apreendiam via constru��o do conhecimento:

" Em outras palavras, se existe um setor no qual os m�todos ativos se dever�o impor no mais amplo sentido da palavra, � sem d�vida o da aquisi��o das t�cnicas de experimenta��o, pois uma experi�ncia que n�o seja realizada pela pr�pria pessoa, com plena liberdade de iniciativa, deixa de ser, por defini��o, uma experi�ncia, transformando-se em simples adestramento, destitu�dos de valor formador por falta de compreens�o suficiente dos pormenores das etapas sucessivas." (Jean Piaget, Para onde vai a educa��o?, p�g. 17)

a linguagem logo tem todos os elementos necess�rios para realizar isso, pois ela consiste em problemas que s�o analisados e constru�dos pelos alunos e depois s�o experienciados em uma utiliza��o pr�tica no computador, traduzindo assim a base da pr�pria atividade construtivista, que no entanto, Piaget j� lamenta, n�o existe na escola tradicional:

" Essas s�o as no��es que inspiraram as doutrinas da escola tradicional:(...) Basta, em suma, acumular conhecimentos na mem�ria, ao inv�s de conceber a escola como um centro de atividades reais( experimentais) desenvolvidas em comum, tal como se elabora a intelig�ncia l�gica em fun��o das a��es e trocas sociais." (Jean Piaget, Para onde vai a educa��o?, p�g. 31)

 

a linguagem logo possibilita demonstrar um vi�s para a supera��o e passagem da escola tradicional para um a escola construtivista, voltada para o aluno como sujeito. O pr�ximo passo seria poder colocar a internet na escola e realizar assim trocas de id�ias e conte�dos, buscar solu��es em conjunto com alunos de outras escolas e mesmo de outros pa�ses. esse interc�mbio de solu��es � uma mola mestra para a produ��o cada vez maior de um aprendizado mais eficiente. como diz Piaget:

" As correspond�ncias interescolares, os clubes de ajuda m�tua em favor da juventude de outros pa�ses, os grupos de viagens internacionais( trocas de estudantes em tempo de f�rias e mesmo de aula), e muitas outras iniciativas j� tomadas entre as duas guerras constituem m�todos ativos cujo alcance se revelou positivo. (...) Pode-se conceber, por exemplo( sem envolver a responsabilidade do professor e a t�tulo de livre troca de id�ias), um grupo de alunos secundaristas procurando estabelecer, por meio de uma confronta��o de artigos de jornal ou de declara��es radiof�nicas, a multiplicidade dos pontos de vista, a respeito de um mesmo acontecimento, e as dificuldades de uma hist�ria objetiva." (Jean Piaget, Para onde vai a educa��o?, p�g. 80)

At� aqui apresentei o que � o logo, qual a teoria que o embasa e suas m�ltiplas possibilidades de aplica��o dentro da escola, desde a avalia��o, at� um poderoso instrumento de trabalho e experimenta��o dentro da escola. a teoria que o sustenta constitui-se das id�ias de Piaget aplicadas na pr�tica, em uma aprendizagem interativa, n�o-passiva, que possibilite ao aluno construir o conhecimento e ter a no��o deste como algo a ser produzido e constantemente reformulado, ao inv�s de algo acabado e absoluto. Vimos como a linguagem logo, em suas v�rias possibilidades e caminhos permite as mais variadas formas de se construir uma resposta, respeitando assim o caminho que a individualidade de cada aluno escolher� para se expressar.

Neste �ltimo ponto, veremos como poder ligar todas essas formas de interven��es em uma melhoria no pr�prio sistema de ensino da escola, fazendo com que n�o se perca o que at� aqui foi constru�do, mas se aplique na institui��o. Cabe lembrar que somente separei as interven��es para fins did�ticos, pois na pr�tica elas se deram conjuntamente e creio ser assim a melhor forma de passar adiante o que se pode trazer de novo deste trabalho. Passo assim, ao �ltimo ponto.

A INTERVEN��O NA INSTITUI��O ESCOLA- PROFESSORES E SOE

 

De acordo com as id�ias de Piaget, o sujeito situa-se em um dado momento hist�rico e contextual, onde ele constr�i seu conhecimento e o aplica. Para Piaget, a constru��o da intelig�ncia se baseia nas premissas que:

" O pensamento representativo, por oposi��o � atividade sens�rio-motora, come�a, desde que, no sistema das significa��es que constituem toda intelig�ncia e, sem d�vida, toda consci�ncia, o significante se diferencia do significado. a representa��o pode ser entendida em dois sentidos:

- no sentido lato, ela " se confunde com o pensamento, isto �, como toda intelig�ncia que j� n�o se apoia simplesmente nas percep��es e nos movimentos( intelig�ncia sens�rio-motora), mas antes num sistema de conceitos ou de esquemas mentais".

-No sentido estrito, " ela se reduz � imagem mental ou � lembran�a-imagem, isto �, � evoca��o simb�lica das realidades ausentes."( Jean Marie-dolle, Para compreender Jean Piaget, p�g. 34)

Todo esse esquema sobre a forma��o da intelig�ncia n�o pode no entanto deixar passar em brancas nuvens a import�ncia das rela��es coletivas e do contexto onde o indiv�duo se insere:

" Do mesmo modo, os m�todos ditos " ativos", que s�o os �nicos a desenvolver a personalidade intelectual, sup�em necessariamente a interven��o de um meio coletivo ao mesmo tempo formador de personalidade moral e fonte de interc�mbios intelectuais organizados." (Jean Marie-dolle, Para compreender Jean Piaget, p�g. 35)

Assim demonstra-se que o meio coletivo tem, para Piaget, um papel extremamente importante na forma��o das capacidades do aluno. Foi baseado nesta premissa que estabeleci as interven��es a n�vel de fam�lia. Podemos entender isso em um conceito de forma��o de personalidade, em uma postura cr�tica do sujeito:

" Na sociedade brasileira h� a necessidade de constitui��o do sujeito epist�mico como condi��o b�sica para o processo de cr�tica. De certa forma, se estabelece uma situa��o paradoxal: por um lado, a escola est� eivada pela raz�o formalizada; por outro lado, � nessa mesma escola que est� a possibilidade de constitui��o desse sujeito, sem o qual n�o se estabelece a capacidade operat�ria formal que levaria � tomada de consci�ncia." ( V�rios, Teoria cr�tica e educa��o, p�g. 89)

Para fazer-se uma interven��o dentro de uma escola e transform�-la em um ambiente propiciador de uma aprendizagem construtivista, temos que ter em mente que n�o pegaremos um ambiente "l�mpido" de outras teorias, mas um local j� contaminado por preconceitos subjacentes:

" O professor de primeiro e segundo grau � visto como um mero repetidor de fatos j� conhecidos e aceitos pela comunidade em geral.

Faltam-lhe os m�ritos da investiga��o em novos campos do conhecimento, da pesquisa. Al�m disso, h� um " cheiro" de simplifica��o indevida, de superficialidade, de formula��es estrat�gicas no ensino que ele ministra: os alunos " pressentem" que tratamento did�tico n�o � o produto integral, mas o produto suced�neo, o ‘ Ersatz" que lhes cabe. Devolvemos agora a palavra a Adorno:

" N�o apenas os professores se limitam a reproduzir algo j� estabelecido, mas esta fun��o mediadora, como tal, ocorre em todas as atividades de divulga��o, se torna socialmente um pouco suspeita.

E, ainda,

O problema da imanente falsidade da pedagogia consiste no fato de que esta recorta a coisa sob a medida dos receptores e, portanto, seu trabalho acaba por n�o ser puramente objetivo, por n�o ser motivado pelo pr�prio tema. S� por este motivo, as crian�as de uma maneira inconsciente, j� deveriam se sentir enganadas." ( V�rios, Teoria cr�tica e educa��o, p�g. 130-31)

O professor j� ocupa um lugar no imagin�rio social, que � refor�ado pelas condutas da escola tradicional. Vimos que pela linguagem logo este m�todo da escola tradicional pode ceder espa�o para a busca de um curr�culo verdadeiramente construtivista. o conceito de logo, explorando a imagem mental e as estruturas cognitivas, baseia-se nas id�ias piagetianas entre imagem e estruturas:

" Quanto ao problema das rela��es entre a imagem e o pensamento, tanto Binet quanto os psic�logos alem�es da escola de Wurzburgo( de Marbe e K�lpe e B�hler) mostraram a exist�ncia do que denominavam um pensamento sem imagem: pode-se imaginar um objeto, mas o ju�zo que lhe afirma ou nega a exist�ncia n�o �, ele pr�prio, acompanhado de imagem. Isso equivale a dizer que ju�zos e opera��es s�o estranhos � imagem, mas n�o exclui o fato de que esta desempenham um papel n�o como elemento do pensamento mas como auxiliar simb�lico complementar da linguagem. Com efeito, esta �ltima n�o se apoia sen�o em conceitos ou objetos conceptualizados na qualidade de classes singulares( meu pai, etc) e a necessidade subsiste, tanto no adulto quanto na crian�a, de um sistema de significantes que se firmem n�o em conceitos, sen�o em objetos como tais, e em toda a experi�ncia perceptiva passada do sujeito: � � imagem que est� destinado esse papel e o seu car�ter de s�mbolo( em oposi��o a " sinal") permite-lhe adquirir uma semelhan�a, mais ou menos adequada e esquematizada, com os objetos simbolizados." ( Jean Piaget e B�rdel Inhelder- a psicologia da crian�a, pag. 61)

O conceito de imagem em Piaget tem um papel important�ssimo dentro da forma��o de esquemas cognitivos e, cabe retomar, na linguagem logo a imagem e racioc�nio constituem as pe�as-chaves de todo seu funcionamento e possuem uma valoriza��o bem grande, da� sua possibilidade de ser bem empregada para auxiliar na solu��o de problemas de aprendizagem.

O esquema da linguagem logo, de se construir premissas e depois test�-las dentro do computador, tem correlato na observa��o de Piaget sobre o jogo:

" Se o ato de intelig�ncia culmina num equil�brio entre a assimila��o e a acomoda��o, enquanto que a imita��o prolonga a �ltima por si mesma, poder-se-� dizer, inversamente, que o jogo � essencialmente assimila��o, ou assimila��o predominando sobre acomoda��o.

Primeiramente, o jogo � simples assimila��o funcional ou reprodutora. O fen�meno do " pr�-exerc�cio" de que K. Groos quis fazer a caracterist�ca de todo o jogo s� se explica pelo processo biol�gico segundo o qual todo o �rg�o se desenvolve funcionando; de fato, assim como, para crescer um �rg�o tem necessidade de alimento, o qual � por ele solicitado na medida de seu exerc�cio, tamb�m cada atividade mental, desde as mais elementares �s tend�ncias superiores, tem necessidade, para se desenvolver, de ser alimentada por uma constante contribui��o exterior, mas puramente funcional e n�o material." ( Jean Piaget, a forma��o do s�mbolo na crian�a, pag. 115)

A linguagem logo possibilita a passagem desta rela��o entre trabalhar com imagens mentais e estruturas cognitivas onde estas se inser�o para a valida��o ou n�o dos esquemas realizados na experimenta��o final no computador.

Essa retomada que eu fiz do que j� foi abordado anteriormente, serve para rever os pontos e refletir sobre como tudo isso ir� agora se inserir dentro do processo educacional do dia-a-dia da sala de aula, como passar todas essas descobertas para a rela��o professor-aluno.

Em primeiro lugar, considero necess�rio que, como as minhas interven��es inicias demonstraram, que o papel da fam�lia seja visto sob outro �ngulo dentro da escola. Minha primeira interven��o junto aos professores, adveio da queixa destes de n�o saber o que fazer com os alunos problema. Nesse sentimento de impot�ncia aparentemente desesperador, meu primeiro passo foi mostra que os professores tinham algo a oferecer sim e que eles, melhor do que eu, tinham capacidade de formular respostas, pois convivem e conhecem o ambiente de aprendizado melhor do que qualquer outro. S�o eles que diariamente atendem os alunos, que dedicam parte de sua vida para estes. Assim, fiz com que vissem que esse conhecimento que ali estava mas que no entanto era relegado a segundo plano, � importante pois pode mostrar a dire��o para buscarmos solu��es para problemas de aprendizagem dentro da sala de aula. assim tamb�m foi com a fam�lia, pude exibir a esta que eles traziam um saber sobre o aluno- sua hist�ria, sua forma de relacionamento haja vista que s�o quem possuem la�os mais fortes com este- e que isso � uma parte importante do aprendizado que deve ser passada para os professores, pois pode auxiliar muito a entender a forma como o aluno est� construindo seu conhecimento, tendo em vista que o aluno nunca � pass�vel frente ao conhecimento e isso os professores tem de levar em conta, mas expressar� sua conflitiva emocional atrav�s da forma original e particular de construir o conhecimento.

Para tanto, realizei um trabalho com os professores para que pudessem deixar de lado antigos preceitos da escola tradicional, da generaliza��o dos alunos, e pudessem come�ar a perceber que cada aluno tem a sua forma espec�fica de abordar o conhecimento e para tanto me utilizei da linguagem logo no seguinte sentido: O meu trabalho com a linguagem logo trouxe resultados significantes, que pude demonstrar aos professores como cada aluno, mesmo encontrando uma solu��o em comum, a fez atrav�s de um trajeto bastante particular. Com estes resultados na m�o, pude demonstrar-lhes que o conhecimento possibilita muitas vias de constru��o e que o ensino pode se dar de forma construtivista e , al�m disso, como a experimenta��o pode ser mais frut�fera do que a mera repeti��o de conte�dos ministrados por parte dos alunos.

Atrav�s dos resultados obtidos no trabalho de logo, pudemos tamb�m nos sentarmos juntos, eu e os professores, e avaliar as respostas dos alunos, indentificando poss�veis falhas na constru��o do conhecimento e no racioc�nio l�gico destes. Isso se devia a alunos que tomavam o conhecimento como algo absoluto e pronto, imut�vel e portanto logo se desinteressavam deste. Pudemos nessa avalia��o conjunta determinar para cada caso se esse conceito err�neo de conhecimento se devia a valores e preconceitos oriundos do contexto familiar, ou se, pelo m�todo de ensino, os professores estavam transmitindo uma vis�o desta natureza para as crian�as. Havia um papel da fam�lia em alguns casos, mas prevaleceu uma dificuldade dos professores em sa�rem do modelo tradicional de escola e entrarem em um modelo eminentemente construtivista. Essa avalia��o serviu como term�metro para os professores repensarem sua pr�tica pedag�gica. Aos poucos, penso em direcionar o trabalho com a linguagem logo para a sala de aula, n�o somente fazendo o corpo docente da escola tomar essa tarefa para si, mas incorporando neles a necessidade, para bem ministrar os conte�dos, de utilizar-se de m�todos de experimenta��o.

 

Para que todo esse trabalho se realiza-se, foi preciso no entanto que eu ganha-se a confian�a dos professores e para que isso ocorre-se teve de serem sanadas quest�es relativa a pr�pria institui��o. S�o quest�es nebulosas no entanto, pois quando se entra em uma institui��o, h� rela��es n�o-verbais, n�o-declaradas, modus operanti baseados em regras obscuras, movimentos impercept�veis ao primeiro momento, ao olhar desatento. Como cita Bleger:

" A exist�ncia ou identidade de uma pessoa ou de um grupo s�o dadas na ordem do cotidiano e manifesto pela estrutura e integra��o que alcan�a o ego individual e grupal em cada caso; considerando como ego grupal o grau de organiza��o, amplitude e integra��o do conjunto daquelas manifesta��es inclu�das no que chamamos verbaliza��o, motricidade, a��o, ju�zo, racioc�nio, pensamento, etc. Por�m, esta individualiza��o, personifica��o ou identidade, que um indiv�duo ou um grupo tem ou espera ter, baseiam-se necessariamente numa certa imobiliza��o dos extratos sincr�ticos ou n�o discriminados da personalidade ou do grupo. Descrevi em outros artigos como se instala entre ambos os estratos da personalidade( ou da identidade) uma forte clivagem que impede que entrem em rela��o um com o outro; pela imobiliza��o dos aspectos sincr�ticos permite-se a organiza��o, a mobiliza��o, a din�mica e o trabalho terap�utico dos aspectos" (Jos� Bleger, Temas de psicologia- entrevista e grupos" pag. 86)

Existia assim conflitos subjacentes, que somente vim a conhecer depois que ganhei a confian�a dos professores. Descobri que as rela��es entre o SOE e os professores havia esmoecido, pois devido a uma dificuldade de di�logo nem o SOE conseguia intervir com os professores nem estes conseguiam entender as diretrizes do SOE para ajudar os alunos indisciplinados, ou como contribuir para melhor benefici�-los. Havia uma certa imobiliza��o por parte dos professores, com medo de que se algo fosse alterado eles n�o soubessem que caminhos percorrerem, medo de ficarem desamparados, ademais que sua rela��o com o SOE estava bloqueada.

 

Alguns trechos do di�logo que estabeleci com os professores buscando construir um m�todo conjunto para lidar com os problemas da sala de aula. Uma das professoras me diz:

- Mas tem salas que os alunos s�o insuport�veis, tem turmas que a gente nem pode entrar...

As outras professoras balan�avam a cabe�a concordando. Parece que, al�m de alunos-problemas, t�nhamos agora turmas-problema. Digo a elas:

- Mas como � essa turma? O que a faz insuport�vel?

A mesma professora toma a palavra:

- Olha, digamos que tenho uma turma onde ningu�m para quieto. Isso ocorre na 702- as outras professoras confirmam- eles se levantam, andam pela sala toda, n�o querem fazer nada.... e isso uma turma inteira!

- Mas quem sabe se a aula for feita de forma mais interessante, se conseguir cativar eles- mostro os n�meros do trabalho com logo- veja, consegui desenvolver tr�s projetos de programas com eles, tr�s atividades, enquanto eu esperava somente duas no m�ximo... isso s� foi poss�vel porque consegui cativar a aten��o deles plenamente.

-Mas como fazer isso em sala de aula? Pergunta uma professora.

- Bom, pode-se dar um conte�do e faz�-lo voltado para a experimenta��o, deix�-los investigar... ao inv�s de dar pronto a mat�ria, propor jogos, desafios... poderia por exemplo, ao inv�s de dar determinado dado hist�rico, faz�-los pesquisar na biblioteca, incentivando-os a buscar solu��es por si...

- �, a gente tem usado t�o pouco a biblioteca...

- Tem algum texto que fale sobre esse m�todo? Para nos fazer entender melhor?

Indico alguns livros de Piaget, mas falo que al�m disso elas precisam se sentar e discutir conjuntamente formas de melhorar a atividade delas.

-Voc�s mesmas tem que construir a forma de dar aula, n�o partir de esquemas prontos, por exemplo, chegar na sala, ministrar o conte�do e mandar os alunos repetir, tem que, por voc�s, criarem m�todos para transformarem a aula constantemente...

No terceiro encontro que tivemos, elas me indagaram especificamente sobre os alunos indisciplinados. Uma das professoras mais antigas me disse:

- Conhe�o alunos que vem apresentando problemas h� tempos, como a gente resolve isso?

Ao inv�s de dar uma resposta pronta, lhe pergunto:

-Bom voc� os conhece a mais tempo do que eu, o que sugere?

- Eu n�o sei, s� sei que eles n�o deveriam perturbar os outros alunos...

Outra interrompe:

- E alguns deveriam ter uma educa��o melhor em casa, tem fam�lias que se permite fazer tudo e quando chegam na sala de aula, eles querem agir assim...

- Al�m do mais, tem alunos que n�o querem nada com nada, que j� tem uma ficha extensa no SOE, voc� suspende ele e ele nem liga, d� risada da tua cara...

- �, e depois os pais vem nos cobrar...

Antes que todos comecem a falar ao mesmo tempo, tento retomar uma certa ordem:

- Esperem um pouco, vamos retomar isso... h� muitas coisas interessantes que voc�s disseram... primeiro, podemos falar com a fam�lia, trocar id�ias, talvez at� dar orienta��es sobre formas de conduta.... e aprender com a fam�lia tamb�m...

- T�nhamos que falar com o SOE, a gente encaminha um aluno e depois n�o sabe nada do que aconteceu....- sugere uma professora. Aos poucos come�am a aparecer id�ias.

- Se os pais conseguissem valorizar nosso trabalho, j� seria cem por cento melhor...

- Muitas vezes a gente quer ajudar, dar uma for�a para tal aluno... a gente sabe que ele n�o � mau, que tem futuro... mas n�o temos contato com a fam�lia, n�o sabemos por onde come�ar, entende?

Proponho que tracemos em conjunto uma forma de abordagem da fam�lia.

- Acho que os pais podem vir nos procurar mais seguidamente e, quando vier falar de algum menino, a gente poder trocar informa��es n�o s� do que fizemos, mas do que o SOE sabe tamb�m....

- Elaborar fichas sobre condutas, conselhos e atitudes que sugerimos, mostrar aos pais e discutir com eles...

- Mostrar que a educa��o n�o depende s� de n�s, n�? Eles participam tamb�m, mostrar isso.

Aos poucos, minha interven��o junto aos professores vai se direcionando para aquilo que eu considero o mais produtivo, a saber, que eles mesmos possam encontrar solu��es, tra�ar planos e m�todos, em suma, que adotem para si o modelo construtivista de trabalho e construam suas solu��es, aprendendo a compartilhar dados e informa��es, a manter contato com a fam�lia e o SOE e, principalmente, poder sair daquela vis�o de que " n�o h� nada que possamos fazer, n�o h� o que temos para dar". S� essa mudan�a de atitude j� gera toda uma possibilidade de movimento e modifica��o. Como eu digo a eles, n�o sei se todas as mudan�as ocorreram ou se ir�o para o caminho certo, mas sei que pelo menos estamos tentando construir alguma coisa. A tentativa � o que importa, o resultado que dar� n�o temos como prever.

Um outro ponto que considero necess�rio ser bem trabalhado e que at� ent�o pouca coisa consegui fazer, foi melhorar a comunica��o entre o SOE e os professores. Considero que � necess�rio ao SOE trazer dados sobre o que foi realizado como trabalho, quais as condutas para se lidar com tal aluno que ele acha mais relevantes de serem tomadas, para que o trabalho n�o se torne fechado e n�o se perca, al�m de que os professores podem colaborar e muito, pois convivem diariamente com as crian�as, tem mais acesso a elas do que o SOE. Assim, penso em fortalecer mais ainda essa via de comunica��o, estabelecendo uma certa norma de se escrever dados, guardando o compromisso de sigilo, � l�gico, daquilo que possamos ter de informa��o, seja do que foi obtido via SOE ou da cl�nica do CAE e poder encontrar uma metodologia em conjunto entre cl�nica+SOE+professores, pois certamente muito um tem para contribuir com o outro. Trocando informa��es, podemos tra�ar estrat�gias de trabalho muito mais frut�feras e eficazes, do que se fiz�ssemos isso solitariamente.

Em resumo, o trabalho com o corpo docente e o SOE engloba aspectos de uma interven��o institucional que tem por objetivo poder fazer a escola trabalhar como um todo bem sincronizado, vencer as barreiras que cada grupo levantou para impedir o livre fluxo de informa��o e preferencialmente fazer com que, decis�es que envolvam os m�todos e formas de abordagem sejam constru�dos a partir das informa��es e opini�es de todos os grupos, sem que a vis�o de um prevale�a sobre a de outro.

Assim as informa��es que a fam�lia trouxer, que o professor tem, ir�o auxiliar o SOE a ter uma vis�o mais clara do aluno e, as interven��es que o SOE fizer, passar�o para a fam�lia e os professores, construindo assim uma rede onde todas as vari�veis que cada grupo observa s�o trocadas. N�o se trata de um grupo ter soberania sobre o outro, ou de um ter um conhecimento mais aprofundado ou intelectualizado sobre outro mas, acima de tudo, s�o conhecimentos diferentes.

Falei que, para esse trabalho se realizar, � necess�rio contudo desvelar-se certas barreiras que os grupos criam, para impedir o livre interc�mbio de informa��es ou para evitar demonstrarem seus pontos fracos, com medo de serem repreendidos. Cada grupo possui regras e normas que n�o s�o verbalizadas, mas que notamos sua presen�a como teias quase impercept�veis no ar, ligando cada membro do grupo ao todo.

Como bem expressou Bleger, foi necess�rio para mim analisar os elementos que compunham a parte indiferenciada do grupo:

" Um grupo � um conjunto de pessoas que entram em intera��o entre si, por�m, al�m disso, o grupo �, fundamentalmente, uma sociabilidade estabelecida sobre um fundo de indiferencia��o ou de sincretismo, no qual os indiv�duos n�o tem exist�ncia como tais e entre eles atua um transitivismo permanente. O grupo terap�utico se caracteriza tamb�m por estas mesmas qualidades, acrescido o fato de que um dos integrantes do grupo( o terapeuta) interv�m com um papel especializado e predeterminado, mas isso( esta �ltima fun��o) se realiza sobre uma base na qual o terapeuta est� envolvido no mesmo fundo de sincretismo que o grupo." (Jos� Bleger, Temas de psicologia- entrevista e grupos" Pag. 87)

A parte indiferenciada � um aspecto comum a todos, que une o grupo em um sentimento �nico de identidade, mas que no entanto n�o � percept�vel ou consciente para os elementos do grupo. Pois bem, no grupo docente, notei primeiro que havia um certo receio, um medo de que eu os deixaria no meio do caminho caso eles fossem buscar solu��es inovadoras. Al�m disso, havia um certo sentimento de fracasso e de n�o saber bem o que poderia ser feito, um desejo de n�o falar dos erros por temer n�o conseguir consert�-los.

Mas a parte que considerei mais importante foi que os professores resistiam � mudan�a n�o porque negassem os postulados piagetianos, mas porque no fundo ainda concebiam a escola como modelo tradicional, conforme eles foram formados. Isso denotou-se em um encontro meu com os professores em que um deles disse:

- Mas no meu tempo a gente tinha que repetir os conte�dos de forma correta e aprendia bastante, era bom...

Isso demonstrou que internamente os professores ainda continuavam transmitindo o conhecimento pelos m�todos da escola tradicional, porque eles mesmos foram criados por ela. Inconscientemente, sua vis�o de escola ainda estava ligada ao conceito que viveram e aprenderam de escola quando crian�as. Eles n�o repensavam os m�todos, apenas repetiam um padr�o aprendido anteriormente. Isso era um ponto que os unia, embora acreditassem serem construtivistas, na pr�tica secretamente reverenciavam a escola de sua inf�ncia. Era uma "norma n�o-verbalizada", que os unia incoscientemente contra as mudan�as no m�todo de ensino:

" Um dos exemplos que Sartre apresenta como t�pico da serialidade � o de uma "fila" � um indiv�duo totalmente isolado; esses indiv�duos, enquanto n�meros, s�o intercambi�veis um pelo outro. Para mim, ainda no exemplo de uma " fila" � espera de um �nibus est� presente a sociabilidade sincr�tica depositada nos modelos e normas que vigoram para todos os indiv�duos. Cada um dos integrantes da " fila" conta com essa seguran�a, de tal forma que nem sequer chega a ter consci�ncia da mesma, tanto que o pr�prio Sartre foi levado a ignor�-la." (Jos� Bleger, Temas de psicologia- entrevista e grupos" Pag. 90)

Assim os pressupostos e regras da escola tradicional ainda vigoravam nesta escola, mesmo que n�o declarados. Eram frutos de uma repeti��o de um esquema aprendido e tido como um "o�sis" quando n�o se sabia o que fazer e por um temor do que uma mudan�a de m�todo traria de inseguran�a, um caminho que n�o conheciam e que tinham medo de se perder. Assim, a socializa��o entre eles e a dificuldade de discutirem entre si m�todos novos, criava uma identidade grupal baseada na repeti��o de modelos que constitu�ram a inf�ncia daqueles sujeitos:

" a identidade grupal tem dois n�veis em todos os grupos: um � o da identidade proporcionada por um trabalho em comum e que chega a estabelecer modelos de intera��o e modelos de comportamento que s�o institucionalizados no grupo; esta identidade � dada pela tend�ncia � integra��o e intera��o dos indiv�duos ou pessoas. Por�m, outra identidade que existe em todos os grupos, e que �s vezes � a �nica( ou a �nica que se atinge em grupo), � uma identidade muito particular que podemos chamar identidade grupal sincr�tica. Esta n�o � dada com base numa integra��o, numa intera��o em modelos de n�veis evolu�dos, mas com base numa socializa��o em que esses limites n�o existem e cada um daqueles que, do ponto de vista naturalista, vemos como sujeitos ou indiv�duos ou pessoas n�o tem identidade enquanto tal, mas sua identidade reside no seu pertencimento ao grupo." (Jos� Bleger, Temas de psicologia- entrevista e grupos" Pag.92)

Como � um corpo docente que atua junto h� muito tempo, a perten�a ao grupo se dava pela aceita��o dos pressupostos velados do mesmo, e pela repeti��o, inconsciente destes.

" Podemos estabelecer aqui uma equipara��o, uma equival�ncia, ou uma f�rmula, dizendo que quanto maior for o grau de pertencimento a um grupo maior ser� a identidade grupal sincr�tica( em oposi��o � identidade por integra��o). E quanto maior for a identidade por integra��o, menor ser� o pertencimento sincr�tico ao grupo". (Jos� Bleger, Temas de psicologia- entrevista e grupos" pag.92)

aos poucos, isso tornava-se uma norma institu�da, mais dif�cil ainda de ser modificada porque n�o era verbalizada, n�o estava amostra, a olho nu. L�gico que dissolver este la�o n�o se d� de hora para outra, pois implica muitas coisas:

" Assim, compreende-se que a dissolu��o de uma organiza��o ou a tentativa de mudan�a da mesma possa ser diretamente uma desagrega��o da personalidade; e n�o por proje��o, mas porque diretamente o grupo e a organiza��o s�o a personalidade de seus integrantes. Assim se explica a grande freq��ncia de doen�as org�nicas graves nos aposentados recentes, e podemos entender melhor como o ostracismo na antiga Gr�cia era mais destrutivo para a personalidade do que a pris�o ou o fuzilamento." (Jos� Bleger, Temas de psicologia- entrevista e grupos" Pag. 97)

Neste momento procuro cada vez mais deixar consciente aos professores esses aspectos velados da rela��o grupal e possibilitar cada vez mais fazer essa passagem dos conceitos da escola tradicional para um m�todo puramente construtivista. � um trabalho que ainda perdurar� por muito tempo.

 

 

 

 

CONCLUS�O E PROJETOS FUTUROS A PARTIR DO TRABALHO REALIZADO

Pude conseguir resgatar o aspecto de historicidade do aluno dentro da sala de aula atrav�s do contato mais estreito com a fam�lia deste e possibilitar novas formas mais precisas de avalia��o das dificuldades escolares atrav�s da linguagem logo, acompanhada de uma melhoria nessa aprendizagem, tanto em dar ferramentas facilitadoras da constru��o do conhecimento quanto estimular o aluno e levantar sua auto-estima constando que pode superar os obst�culos o que a linguagem logo permite fazer.

Atrav�s desses instrumentos, pode-se levantar junto ao professor o papel que a hist�ria do sujeito deve ocupar na educa��o do mesmo, nova postura do professor frente ao conhecimento e da forma de transmiti-lo, operando a passagem do modelo tradicional para o construtivista, demonstrando ao professor que pode-se ter uma aula mais investigativa e com experi�ncias para transmitir o conhecimento de novas formas, possibilitar canais de discuss�o entre corpo docente e fam�lia, buscando gerar solu��es em comum. Para que todo esse trabalho ocorre-se foi necess�rio apontar os pressupostos velados da escola tradicional sobre a qual se constitu�a o grupo de professores e auxili�-los a n�o temer as mudan�as em seu m�todo de aprendizagem- trabalho esse que ainda permanece inconcluso, devido ao forte sentimento arraigado que os professores trazem de lembran�as e esquemas seus de seu conceito de escola quando eram crian�as.

Isso faz com que pensemos quais os caminhos que o trabalho vai seguir daqui para adiante. Em primeiro lugar, � necess�rio que estas mudan�as sejam internalizadas pelos professores, que eles assumam isso como um trabalho seu, de import�ncia para sua atividade, para que, com a troca de estagi�rios, esse canal que foi aberto com os professores n�o venha a se fechar. H� a necessidade tamb�m de se reatar as rela��es entre SOE e corpo docente, pois sem este la�o fica imposs�vel realizar trabalhos dentro da escola. A cl�nica do CAE, o SOE, a fam�lia e a o corpo docente s�o elementos de uma mesma rede que tem por objetivo proporcionar a melhor qualidade de educa��o para as crian�as que atendem. Uma plena comunica��o e troca de informa��o faz-se necess�rio para estabelecer um bom trabalho. Para isso � preciso estabelecer todo um planejamento futuro de integra��o dessas v�rias �reas e lutar contra as rixas internas. � preciso fazer cada uma dessas �reas da complexa rede educativa busquem se unir e abram-se para troca de id�ias.

 

Por fim a quest�o principal � fazer a escola avan�ar na dire��o certa, tendo por base um modelo construtivista que forme cidad�os cr�ticos e participativos, que contribu�ram para a comunidade. Nesse intuito, preserva-se os canais j� abertos e os trabalhos constru�dos mais como exemplos do que pode-se realizar na escola e de como um m�todo construtivista pode e deve ser empregado no �mbito educacional, resignificando e ressaltando os valores principais que constituem a ess�ncia do construtivismo, do que acreditar que o trabalho feito at� aqui foi tudo que se podia fazer em termos educativos. Nosso trabalho tamb�m n�o p�ra, tamb�m se constr�i a cada momento, se reinventa perpetuamente. Novas solu��es sempre surgem e sempre haver�o de surgir. Para mim, o melhor significado disso foi expresso por um garotinho de 9 anos, quando lhe indaguei qual a mat�ria que ele mais gostava. Ele respondeu: " N�o existe mat�ria ruim, depende de como a professora d� a aula!" Que essas palavras sirvam de guia para o que buscamos constituir dentro de uma escola.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TRABALHOS DESENVOLVIDOS COM A INFORM�TICA

 

O trabalho desenvolvido na verdade engloba um todo, ou seja, teve como principal objetivo reformular o ambiente de sala de aula para torn�-lo mais construtivista. Para isso, contamos com o determinado material na escola:

- 10 computadores 486 dx60, 8 meg de ram, win 3.11

- Software de jogos, entre eles: mem�ria, incredible machine, campo minado, write e paint

- Software educativo: logo

- O trabalho foi desenvolvido nos seguintes m�dulos:

1- Jogos e aplicativos para desenvolver a destreza no computador, para as crian�as se acostumarem com o uso do mouse e teclado- desenho, campo minado, write

2- Jogos para estimular o racioc�nio- mem�ria, incredible machine, logo

3- Aplicativo para desenvolver a criatividade e no��o de espa�o- Paint

4- Escrita de palavras que foram recentemente aprendidas em sala de aula- Write

O trabalho foi realizado com dois grupos:

- O grupo da pr�-escola( 11 alunos) e do primeiro ano( 12 alunos) em 98/02

- Em 99/01, os alunos comproblemas de parendizagem( que eu vinha atendendo) do primeiro ano s�o transferidos todos para uma turma. Os que passaram de ano, n�o acompanhei mais a evolu��o pois j� tinham conseguido melhorar seu desempenho. Continuei a trabalhar com aqueles que ainda apresentavam dificuldades- por isso repetiram- e com os egressos do pr�( n�o s�o reprovados, apenas a partir do 1 ano)

- Em 99/01 continuei o trabalho com o grupo sendo que ele se constitui:

    • 9 alunos que repetiram a primeira s�rie;
    • 4 alunos com problemas no pr�, que agora est�o na primeira s�rie;
    • 3 alunos novos, dois repetiram esse ano, um vem de outra escola com problemas de aprendizagem;

Para al�m desse trabalho, procurei criar um ambiente construtivo para todas as classes do primeiro ano, embora meu trabalho se concentre mais nos alunos com dificuldades escolares.

 

 

 

M�TODO ESCOLHIDO E DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

 

Devido aos graves problemas de fracasso escolar que a escola enfrenta, decidi que o primeiro passo era poder tra�ar os principais motivos envolvidos nesse fen�meno.

Primeiro, constatei que a escola ainda n�o tinha realizado convenientemente a passagem do modelo tradicional de escola para o modelo construtivista. Ademais, os professores nem mesmo tinham bem claro para si como constituir uma educa��o construtiva na escola e desprezavam assim seu papel nesse fen�meno do fracasso.

" Gra�as a combina��o entre provas psicol�gicas e um estudo continuado da sua atividade individual, � que o aluno ser� encaminhado definitivamente para as diferentes se��es onde ir� terminar seus estudos secund�rios: encaminhamentos profissionais diversos e prepara��o para os altos estudos."( Piaget, Jean. Para onde vai a educa��o? p�g.47)

O primeiro ponto que estabeleci foi de poder fazer a escola trabalhar em conjunto, sistematizando de forma racional as trocas de informa��es dentro da escola:

    • Em primeiro lugar, poder juntar as informa��es espec�ficas sobre cada aluno em um �nico lugar. Assim, havia material sobre o hist�rico do aluno na secret�ria e outro no SOE, sendo que um setor desconhecia o que o outro possu�a. Al�m disso, havia dificuldades entre o SOE e os professores, dificultando o tr�nsito de informa��o sobre os alunos. A isso soma-se o fato de ser dif�cil trabalhar com o corpo docente, por ser um grupo muito fechado que teme que as cr�ticas possam desestabilizar seu trabalho. O primeiro ponto foi unificar todas as informa��es sobre os alunos, na secret�ria e no SOE, al�m de estabelecer dispositivos que pudessem fazer fluir melhor uma comunica��o com os professores. Isso pode ser obtido com um trabalho em conjunto com a dire��o e a vice-dire��o, pois tinham um acesso maior aos professores. Como muitos casos de alunos s�o atendidos pelos pr�prios professores e pela dire��o, achei mais oportuno poder transmitir a eles algumas indica��es de como proceder, para que nosso trabalho como estagi�rios de psicologia n�o ficasse " sobrecarregado" de casos, quando na verdade deveria haver mudan�as estruturais no funcionamento educativo da escola.
    • Com isso abordei o ponto principal para iniciar uma renova��o da metodologia escolar, a meu ver o �nico caminho para se abordar convenientemente o problema do fracasso escolar, sem cair numa " culpabiliza��o" do aluno, como geralmente os professores preferem fazer. Acreditei que para realizar uma modifica��o metodol�gica, era necess�rio conhecer os principais problemas dos alunos na realidade e abordar cada um em sua especificidade. Os principais pontos que eu levantei de problemas que dificultavam o aprendizado dos alunos, foram:

 

 

- A dificuldade econ�mica, logicamente, influi bastante por ser uma comunidade carente. Isso se reflete na falta de material educativo em casa, dos pais n�o terem tempo de auxiliar as crian�as no estudo, falta de uma alimenta��o balanceada, etc.

 

- A falta de interesse ou de orienta��o dos pais para reconhecer a import�ncia da fam�lia na educa��o da crian�a, para participarem mais ativamente na educa��o dos filhos, seja auxiliando em casa, seja vindo � escola obter informa��es.

" Em primeiro lugar, os pais existem na mesma forma que todas as outras coisas: h� pais excelentes, mas tamb�m os h� menos bons, contra a vontade dos quais � vantajoso que se possa proteger a crian�a. Existem os inteligentes e bem informados, mas existem igualmente os pouco dotados e os retr�grados, que haver�o de hesitar por exemplo em consultar um m�dico ou seguir seus conselhos, em caso de mol�stia, e aos quais n�o se dever� falar, em se tratando de educa��o, nem de psic�logos nem de pedagogia moderna... A quest�o est� principalmente em saber como atuar em rela��o aos pais desse �ltimo tipo: bons sujeitos, desejando unicamente o bem de seus filhos, mas opondo-se por ignor�ncia ou por tradicionalismo, a tudo quanto lhes possa ser realmente �til."(Piaget, Jean. Para onde vai a educa��o? p�g.49)

 

- Problemas familiares mais graves, como casos de abuso, luto, etc, que envolviam uma problem�tica mais profunda que excedia o �mbito das possibilidades de aux�lio via educa��o e que em geral eram encaminhados para um atendimento psicol�gico fora da escola ou para o Conselho Tutelar, conforme o caso. Cabe salientar que, embora estes casos possam a primeira vista n�o parecer relacionado diretamente com a modifica��o da metodologia escolar, na verdade para que eles aparecessem era necess�rio reconhecer dentro de sala de aula a especificidade da forma da crian�a de se portar e de interagir com os outros colegas. Se todos alunos com dificuldade receberem o r�tulo gen�rico de " aluno-problema", se desprezar� que cada dificuldade tem sua configura��o especial, embora muitas vezes eliminando-se um elemento importante que a esteja causando soluciona-se v�rios problemas ao mesmo tempo. Al�m do mais a n�o busca de locais que podem ajud�-los- como o conselho tutelar- refletia tamb�m como as pessoas desconhecem seus direitos e sentem-se incapazes de reivindic�-los e acho que isso � tamb�m um papel importante da escola que muitas vezes o professor acaba deixando de lado, pois uma escola n�o educa apenas as crian�as, mas � um centro de produ��o de saber dentro de uma comunidade, uma refer�ncia para as pessoas e ensinar participa��o como cidad�o � algo que deveria estar como meta principal dentro da escola.

 

- A falta de interesse pelos conte�dos de aula, de ler um livro, dado prefer�ncia aos video-games ou televis�o.

Tamb�m se avaliou os fatores que influenciam as dificuldades escolares oriundos da escola ou mais especificamente os advindos do corpo docente:

- A dificuldade dos professores em estabelecer a disciplina em aula, em poder passar as normas b�sicas de conduta social ou de estabelecer trabalhos em conjunto. Considero isso um fator de n�o estar bem claro o papel da escola e sua import�ncia como elemento transformador da sociedade.

- Uma educa��o ainda n�o totalmente construtivista, que n�o consegue incorporar o ambiente onde as crian�as vivem e construir conjuntamente com estes um conhecimento que auxilie no cotidiano do aluno e que seja ao mesmo tempo divertido e instrutivo, que possa apropriar-se do fasc�nio dos meios de comunica��o e que possa, ao mesmo tempo, ser tamb�m instrutiva.

- Os professores encontram hoje uma dificuldade de poder dialogar com a fam�lia, de fazer um trabalho " aberto" onde a fam�lia contribua com sugest�es ou conselhos e que os professores por sua vez tamb�m possam orientar a respeito da parte instrutiva que o aluno necessita. Quando os professores e a fam�lia brigam, quem perde sempre � o aluno.

- Dificuldade dos pr�prios professores de verem os dispositivos presentes em sua profiss�o para construir uma cidadania e que podem ser utilizados para evocar uma maior participa��o social e transformar a comunidade onde a escola est� presente. Os professores parecem n�o reconhecer que na sua profiss�o � onde est� o maior poder de constru��o da democracia.

Assim, pude correlacionar onde as dificuldades metodol�gicas dos professores produziam os efeitos nas dificuldades de aprendizagem dos alunos. Fiz um levantamento da ficha de cada aluno, al�m de estabelecer um contato com a fam�lia e repassei estes dados ao professor, recebendo conjuntamente conselhos deste. Selecionei um grupo atrav�s do que a escola considerava os mais problem�ticos e, mais do que fazer uma avalia��o categ�rica, meu interesse se voltou em transmitir ao professor uma metodologia de abordagem: conhecer um pouco da hist�ria de cada aluno, seja pelo seu hist�rico ou em contatos freq�entes com a fam�lia. A id�ia principal era passar ao professor que a educa��o � um processo de constru��o, que ele n�o recebia apenas o aluno, mas que era uma das pe�as do processo, ou seja, um professor da quinta s�rie deveria ter acesso e conhecer o que os seus alunos produziram desde a pr�-escola at� agora, pois conhecendo toda a riqueza do processo, fica mais f�cil detectar quais as dificuldades espec�ficas e a forma do aluno de aprender. O professor deveria n�o apenas avaliar o aluno, mas avaliar o m�todo pessoal do aluno de abordar o conhecimento.

" ... o m�todo mais seguro para o diagn�stico e progn�stico � sem d�vida aquele que se baseia na observa��o dos alunos e de seu trabalho real. Trata-se por�m de um m�todo delicado, que presume em nosso entender uma colabora��o constante entre os professores, respons�veis pelo ensino, e os psic�logos escolares, cuja tarefa consiste em acompanhar os alunos individualmente." (Piaget, Jean. Para onde vai a educa��o? p�g.47)

Aos professores � transmitido um m�todo de abordagem do aluno diferente dos modelos tradicionais: em um primeiro ponto o resgate da import�ncia da hist�ria do aluno e sua individualidade no processo de aprendizagem, atrav�s de um di�logo com a fam�lia e do levantamento do hist�rico do aluno, sua hist�ria escolar. Em um segundo momento dar uma �nfase maior a forma do aluno de abordar o conhecimento procurando respeitar e trabalhar isso em aula. a forma do aluno de aprender vem da an�lise de sua hist�ria pessoal.

 

 

 

 

DESENVOLVIMENTO DE ESTRAT�GIAS DE APRENDIZAGEM

 

Com base nos dados colhidos, procuramos utilizar um ambiente que pudesse proporcionar uma educa��o mais adequada. Escolhemos o ambiente de inform�tica porque ele tem muitos aspectos que privilegia a constru��o do conhecimento.

    • A inform�tica possui um ambiente interativo rico de possibilidades, somente limitada pela imagina��o de quem a utiliza
    • Ela possibilita realizar as mesmas tarefas de diferentes formas e percorrendo v�rios caminhos
    • Ela pode tanto servir como um elemento de lazer quanto de trabalho
    • Os elementos trabalhados dentro do computador se interligam entre si e possuem v�rios aspectos e fun��es, o que ajuda a crian�a a entender a complexidade do racioc�nio
    • Possibilidade de interligar elementos e realizar tarefas combinadas, fazendo com que a crian�a entenda o racioc�nio como um processo.
    • Poder refazer comandos, repetir processos de racioc�nio, trabalhar em uma mesma tarefa por dias, modificar seu ritmo de aprendizagem, etc.

Em suma, o ambiente de computador permite que o sujeito imprima seu ritmo para o trabalho, sua forma de aprender. Se � verdade que o computador disponibiliza v�rios recursos ao usu�rio, tamb�m � verdade que a maleabilidade destes fica totalmente a crit�rio do usu�rio de computador.

Nossa principal meta � poder demonstrar que, em um ambiente estimulante e construtivo, os problemas de aprendizagem podem ser melhor sanados. O trabalho com a inform�tica visou colher dados a respeito da forma de cada aluno de construir o conhecimento e poder utilizar isso para na sala de aula auxiliar este aluno a aprender melhor.

Assim, verifiquei como os alunos solucionavam determinado problema, qual caminho preferencialmente escolhiam, como se portavam diante dos erros, etc. Com o levantamento da hist�ria de cada aluno, trazida de seu curr�culo escolar e de entrevistas com os familiares, aliada � an�lise da forma de construir o conhecimento, passei ao passo seguinte que era trabalhar mais efetivamente com os professores( at� ent�o so professores apenas auxiliavam na coleta de dados dos alunos) para que eles se comprometessem para construirmos uma metodologia que privilegia-se os dados que colhemos para melhorar o ambiente de sala de aula, tornando-o construtivo. Para tanto, fazia-se necess�rio poder produzir nos professores o desejo de reflex�o e autocr�tica de sua pr�tica.

 

 

 

A SEGUNDA PARTE, O TRABALHO COM O CORPO DOCENTE

 

 

O trabalho com o corpo docente foi a parte mais dif�cil do trabalho. Primeiro porque as professoras j� estavam acostumadas ao tipo de modelo tradicional de ensino, e tinham dificuldade para utilizar na pr�tica os pressupostos construtivistas. Achamos que o ideal seria juntar todos os alunos problem�ticos ( est�vamos trabalhando com a 1 s�rie do 1 grau) em uma �nica sala. Solicitei que o ideal seria uma estagi�ria nova at� porque ficaria mais f�cil trabalhar com algu�m que n�o estava t�o "contaminada" com o m�todo tradicional de ensino. Trabalhei com ela o fato de que reunir os alunos em uma mesma classe n�o implicava constituir uma classe especial, mas sim que os objetivos seriam diferentes, ou seja, enquanto que em uma classe habitual preocupa-se com as notas dos alunos e se eles conseguiram repetir corretamente o que � ensinado, nesta procurar�amos investigar e nos adequar a forma como cada um consegue aprender. O mais importante era poder elucidar ao m�ximo a forma de constru��o de conhecimento de cada um dos alunos e poder trabalhar essas especificidades.

Nos baseamos ent�o nos seguintes pontos:

    • Uma busca de incentivar atividades art�sticas e manuais, para que eles possam desenvolver a destreza e a sensibilidade
    • Incentivo a atividades interligadas a situa��es de vida
    • Est�mulo a atividades de grupo, onde � necess�rio a participa��o com a observ�ncia das regras sociais b�sicas para conv�vio
    • Trabalhos com inform�tica, permitindo a eles usarem a criatividade e procurando indagar sobre os erros, fazendo-os utilizar estes para construir o conhecimento ao inv�s de simplesmente desprez�-lo

 

Baseado nesses pontos b�sicos de aspectos a se trabalhar na sala de aula, busquei ao m�ximo que meu trabalho e o da professora pudesse estar integrado. A minha interven��o com a professora foi realizada da seguinte forma:

    • Realizamos grupos onde pod�amos discutir sobre cada aluno, tentando tra�ar um panorama do modelo de aprender deste
    • Fizemos fazer um levantamento do processo de aprendizado dos alunos realizando uma agenda onde consta-se todos os aspectos relevantes da turma
    • Busquei melhorar o di�logo professor-aluno atrav�s da organiza��o do conselho de classe onde transformamos em um momento do aluno aprender cidadania, podendo expor ao professor o que ele gosta ou n�o em sala de aula, mas fazer isso de uma forma construtiva, ou seja, eu creio que a cidadania est� em aprender como exercer seus direitos. Por outro lado, foi mais importante para poder mostrar aos professores uma via de comunica��o com o aluno inclusive para sa�rem de uma posi��o defensiva e observarem as cr�ticas como ligadas � forma de ensinarem, n�o ao lado pessoal. � fazer eles perceberem tamb�m que seus erros s�o o melhor guia para construir uma metodologia proveitosa de ensino. Se eles n�o souberem aproveitar os erros, como ensinar�o os alunos a faz�-lo?
    • Buscar que o corpo docente escute a fam�lia do aluno e que perceba as cr�ticas n�o como algo que o desestimule mas podendo utilizar estas para demonstrar ao familiar a import�ncia da participa��o deste e pedir-lhe que auxilie no trabalho de ensino, mesmo porque a fam�lia � uma das partes mais importantes do processo de aprendizado
    • � necess�rio, como foi dito acima, que para o professor aprender a trabalhar o erro do aluno ele possa saber como lidar com seus pr�prios erros

 

O trabalho com o corpo docente envolve que eles possam perceber como � importante o trabalho em conjunto, que para ensinar � preciso estar em sincronia com a fam�lia e o aluno. Sozinho, um professor n�o ensina. Como salienta Piaget:

" ... em todos os meios onde a nova educa��o vai adquirindo uma certa import�ncia, foram desencadeados movimentos de colabora��o entre a escola e a fam�lia, os quais se revelaram extremamente produtivos, e aproveit�veis, para as duas partes em quest�o. A escola na realidade tem tudo a ganhar, ao tomar conhecimento das rea��es dos pais, e estes experimentam um proveito cada vez maior ao serem iniciados, por sua vez, nos problemas da escola."( Piaget, Jean- Para onde vai a educa��o?, p�g. 50)
Al�m do mais, no di�logo que ele pode estabelecer com a comunidade, existe a possibilidade de transform�-la e inclusive de poder trabalhar com a vis�o que esta tem de seu trabalho. � atrav�s da participa��o e do di�logo com a comunidade, � podendo tirar a discuss�o sobre o ensino de dentro da escola e lev�-la para a comunidade, pois � a partir desta e dentro desta que o ensino pode tornar-se frut�fero e pode ser um elemento transformador social.

Segundo Piaget:

"... a prepara��o dos professores, o que constitui realmente a quest�o primordial de todas as reformas pedag�gicas em perspectiva, pois, enquanto n�o for a mesma resolvida de forma satisfat�ria, ser� totalmente in�til organizar belos programas ou construir belas teorias a respeito do que deveria ser realizado."( Piaget, Jean. Para onde vai a educa��o? p�g.25)

O ensino n�o � somente uma atividade do aluno, mas � um mecanismo que possibilita formar cidad�os e atrav�s deste que a comunidade pode exercer sua participa��o e conquistar seus direitos. Mas para tanto � preciso que a escola realize o trabalho de levar a comunidade o significado do ensino e as possibilidades que ele abre.

" Ora, esse assunto apresenta dois aspectos. Em primeiro lugar existe o problema social da valoriza��o ou da revaloriza��o do corpo docente prim�rio e secund�rio, a cujos servi�os n�o � atribu�do o devido valor pela opini�o p�blica, donde o desinteresse e a pen�ria que se apoderaram dessas profiss�es e que constituem um dos maiores perigos para o progresso, e mesmo para a sobreviv�ncia de nossas civiliza��es doentes."( Piaget, Jean. Para onde vai a educa��o? p�g.26)

� importante que o professor tenha a verdadeira dimens�o da sua atividade para pass�-la � comunidade. Atrav�s da escola, as pessoas podem ganhar uma maior qualidade de vida, seja conhecendo mais sobre higiene, sobre as doen�as e rem�dios, sobre como lidar com os filhos al�m da parte mais importante que � conhecer seus direitos e deveres, podendo saber quais os �rg�os do governo que pode acionar, para que serve cada um ,etc. Enfim, conhecer o funcionamento social � um excelente exerc�cio de cidadania.